Os Nós da Mente
Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Ricardo Zalcberg Angulo, escritor - @ricardozangulo
Creio que um dos livros com as inferências filosóficas mais incisivas a respeito da conjuntura cultural corrente seja Sociedade do Cansaço, do sul coreano Byung-Chul Han. Trata-se de um dos ensaios mais criativos que li recentemente a respeito da sociedade capitalista contemporânea.
Esta sociedade que o autor busca descrever e explicar é pautada pela liberdade, pelas métricas de sucesso, pelos objetivos a serem atingidos e pelo excesso de positividade. O argumento é que isso está ligado a uma série de patologias psicológicas.
A sociedade do cansaço é a sociedade do desempenho, da autoexploração; e é a sociedade em que se vive hoje. Creio que esse livro lhe fará entender o porquê de você se sentir tão culpado quando não é produtivo.
O ponto principal da tese do autor é a mudança paradigmática de uma sociedade com fiscalização e dependente de forças coercitivas para adaptar o humano às novas condições aceleradas de produtividade pós revolução industrial. Esta sociedade era a sociedade disciplinar de Michel Foucault. Em contrapartida, a sociedade do cansaço é marcada por algemas invisíveis. Nesta nova sociedade, estando o humano adaptado à produtividade, ele mesmo se induz a esta corrida de aceleração infinita em busca de uma completude jamais atingível por essas ferramentas. Isto é, uma sociedade em que a competitividade não é mais imposta, mas se tornou parte intrínseca da cultura e, portanto, torna-se objeto de desejo de pessoas que acabam tornando-se doentes antes de atingirem seus objetivos.
O ciclo infinito de tentativas de autossuperação, de metas impostas ano após ano: a crença de sempre ser possível ser mais produtivo, focado, competente, dedicado… Por causa dessa crença, não é necessário ter um superior que lhe castigue, pois a própria cultura cumpriria esse papel e o indivíduo se tornaria o seu próprio vigia.
Também há a extinção do pensamento autônomo, autoconsciente e contemplativo, profundo e “inútil”, ou ocioso, além da crescente necessidade de se vender. O ápice ocorre no “infarto da alma”, no burnout e na depressão. Estes são os custos de tentar sempre ser autêntico, produtivo e inovador. Claro está, estes também são os custos da supressão da negatividade e da entrega completa ao trabalho diante de um grande sentimento de liberdade.
Antes, a negatividade era praticada pela violência ao indivíduo; agora, a autoagressão é a regra; a opressão é interna e a tristeza, incompartilhável.