Setembro amarelo e a prevenção ao suicídio

Qual a parte que nos cabe nesse latifúndio?

Os Nós da Mente

Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!

Setembro amarelo e a prevenção ao suicídio
Setembro amarelo e a prevenção ao suicídio
Divulgação

Por Anna Silvia Rosal de Rosal, Psicóloga com formação em psicanálise e doutorado pela PUC SP - @annasilviarosalrosal
 

Setembro foi o mês escolhido para divulgar a importância da prevenção ao suicídio e o combate ao estigma em torno do sofrimento psíquico. Especificamente, 10 de setembro é o dia mundial de combate ao suicídio. Tudo começou quando, em 1994, um adolescente americano - Mike Emme - pôs fim a própria vida, aos 17 anos de idade. Diante da terrível dor causada pela perda de Mike, seus pais e amigos recorreram a uma ação construtiva para lidar com o sofrimento. Produziram cartões com mensagens que mostravam a importância de pedir ajuda quando se está assolado pelo sofrimento psíquico. Esses cartões eram pendurados em fitas amarelas, a cor do carro de Mike Emme. Assim, a fita amarela consagrou-se como símbolo universal da campanha.

Com o passar do tempo diversos países aderiram ao setembro amarelo. Em 2013, a Associação Brasileira de Psiquiatria introduziu a data no calendário de suas atividades e logo ganhou o apoio do Conselho Federal de Medicina. Desde então, cada vez mais, instituições brasileiras (públicas e privadas) realizam ações em prol dessa luta.

Nessa data escolhi falar sobre o suicídio, da perspectiva da psicanálise. Afinal, quanto mais se conhece um assunto mais preparados estamos para lidar com este, pelo menos em tese. Você já se perguntou o que pode levar uma pessoa a recorrer ao suicídio? Quando se vivencia intenso sofrimento alguns buscam no isolamento uma forma de preservação. Tentam se poupar da incompreensão dos observadores de seu sofrimento, do julgamento das pessoas que - insensíveis às dificuldades - costumam dizer coisas do tipo: “não entendo por que é tão triste. Você tem tudo.” “Tão jovem e bonito, como pode viver isolado?”

Ao se isolarem e, portanto, manter o sofrimento em segredo a capacidade de pensar com clareza é fortemente comprometida. Estas pessoas tendem a permaneceram enredadas na própria dor. Não consegue identificar possibilidades para resolver a questão, sequer cogitam pedir ajuda. A partir disso, cultivam a fantasia de que aoeliminar a própria vida, por consequência, eliminariam a fonte da dor: seu mundo interno. O suicídio, portanto, é o recurso final para eliminar um sofrimento que se avolumou ao longo do tempo. Recurso equivocado, vale lembrar.

Podemos fazer algo, além de aderirmos ao discurso preventivo? Todos nós podemos contribuir para a saúde psíquica da coletividade. Para tanto, precisamos ter clareza do sentido da vida. Assim, poderemos entender o quão vital é o respeito as diferenças, as individualidades. Ou ainda, o quanto é necessário adotar ações de inclusão. Aliás, o que deveria ser natural e fortemente presente no cotidiano.

O contrário disso, a estupidez produz no outro a sensação de inadequação, de rejeição e de menos valia - fontes do sofrimento humano. A pessoa que constata não ter importância para o outro e, portanto, se sente invisível,é assolada pelo vazio. Então, a vida perde o sentido e existir implica, necessariamente, sofrer continuamente. A intensidade dessa dor reclama uma solução. Ao mesmo tempo, o isolamento de quem sofre sozinho, imerso em fantasias, afasta a possibilidade de buscar ajuda adequada para elaborar a dor, o vazio e o desamparo.

Sou avessa a ‘receitas de vida’, mas aqui vou lançar algumas recomendações:

  • • Mostre interesse pelo outro.
  • • Respeite as opiniões que divergem de seu modo de pensar.
  • • Não contribua para a violência, ou seja, não participe de bullying ou qualquer discriminação.
  • • Não julgue o outro ou suas atitudes.
  • • Seja inclusivo, isso é ser humano.

O êxito do setembro amarelo depende da adesão de todos nós - humanos. Não somente durante esse mês, mas ao longo de nossa existência. Parafraseando o poeta popular ao nos lembrar que “gentileza gera gentileza”, afirmo que ações humanas, de fato, humanizam a existência. Assim, a vida passa a fazer sentido. Afinal, o que estamos fazendo aqui, no mundo? Faça a diferença.