Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Lais Sellmer, psicanalista (@laissellmer)
No início da carreira o cantor aparecia vestido num estilo heteronormativo. Recentemente apresentou uma música com Kim Petras, uma cantora transgênero, com um visual muito mais sensual e fugindo dos padrões de hetero e cis. Impressionante que a letra Unholy mostra a hipocrisia da sociedade quanto à sexualidade e a repressão sexual. Na letra há uma denúncia de uma relação extraconjungal:
“Mamãe não sabe que o papai está se excitando
No bordel
Fazendo algo pecaminoso”
A repressão sexual na sociedade atual faz com que as obras freudianas permaneçam extremamente atuais,. Continua muito comum o homem buscar prazer fora de casa, enquanto a mulher permanece barrada.
Quando Sam Smith aparece no Grammy, vestido de diabo e cantando ao lado de uma cantora trans, ele desafia o status quo, que é tudo permitido dentro da heterossexualidade. Não vemos pessoas tão indignadas com uma música a bastante tempo, zapeando o tiktok vi imagens do cantor sendo xingado nas ruas. Ele mexeu com a repressão sexual das pessoas, essa hostilidade de parte do público se deve a uma sociedade que continua reprimindo a sexualidade.
E considerando a letra da música de Sam e Kim, o que é mais pecaminoso: ser hétero e trair a esposa ou não ser hétero e cis? O que choca mais a sociedade?
Sam está conseguindo mostrar ao público em sua forma de vestir e se portar o seu verdadeiro eu, talvez ele sempre quis aparecer dessa forma e precisou ganhar espaço e prestígio para poder surgir. De fato não sabemos intimamente sobre o processo dele
A arte trás à tona muitas questões que incomodam e transformam. Sam e Kim representaram muitas pessoas e suas subjetividades nessa música e na apresentação. As pessoas que estão em paz com sua sexualidade se sentiram representadas. As reprimidas, de alguma forma, entraram em contato com seu desejo proibido e numa forma de deslocar a culpa pela repressão sentida estão hostilizando os responsáveis pela obra de arte como se fossem os responsáveis pelos seus desejos proibidos.
A sociedade permanece com o predomínio do patriarcado, heteronormativo e branco. Temos várias lutas sociais buscando coletivamente uma mudança e garantia de direitos, mas no individual ainda somos os mesmos como os nossos pais, como diria Elis Regina.