Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Claudia Gindre, psicóloga e Mestre, psicanalista e Membro Associado do Círculo Psicanalítico do Rio de Janeiro - @claudiagindrepsicologa
Em seis dias, comemoraremos o Dia das crianças. Mas será que temos tanto assim para comemorar? Como vão as infâncias no Brasil, e como temos tratado as crianças em casa?
Françoise Dolto, psicanalista francesa, pode nos dar grandes pistas enquanto psicanalistas no que tange o manejo com às famílias, em textos como: “ Quando os filhos precisam dos pais, Educação e Psicose: o caso Dominique”.
Além disso, em seu trabalho na Maison Verte, na França, nos ensina o trabalho de Orientação de pais e a importância da “palavra verdadeira” no convívio com as crianças.
Já, Alba Fesler, nos deixou outros textos, como “A Psicanálise de Crianças e o lugar dos pais”.
Quando concebemos nossos filhos, sonhamos para eles uma vida perfeita, queremos que sejam as pessoas mais felizes e realizadas do mundo. Para não falharmos nessa missão como pais, devemos dar a eles tudo que desejam, os melhores brinquedos, as melhores roupas e é claro os melhores tênis, sempre os que estão na moda, certo? Não!
Situações possíveis para dizermos “não “
E quando a criança quer brincar na hora errada? Não
Quando desperdiça a comida que foi colocada no prato brincando ou jogando no chão? Não
Ou faz pirraça para ir na piscina em dias frios? Também não
É muito difícil para uma mãe e para um pai negar um pedido do filho, mas deixar de fazer isso pode ser um problema no futuro. Dizer não é necessário, mesmo sendo algo que você de fato pode comprar ou fazer. Não é porque ele quer determinada coisa, que ele pode ou precisa ter. Nem porque “uma vez não vai fazer mal”, que ele deve fazer. A criança precisa entender isso desde cedo.
A partir dos dois anos a criança já é capaz de entender com maior clareza o que é dito, então, é importante explicar o motivo do "não'' e as consequências que o sim naquela situação poderia trazer para a criança. Assim, ela irá aprendendo com o tempo até deixar de fazer ou pedir. Mas lembre-se que cada um tem seu tempo, não é necessário se frustrar, ter paciência é necessário.
Deixar de dizer não para seu filho pode trazer problemas no futuro. Mas, por que?
A importância da “função paterna” (a capacidade de dizer não, que pode ser assumida por qualquer figura que cuide da criança desde os seus primeiros momentos de vida) no desenvolvimento infantil, é fundamental. Tal função pode ser entendida, dentro da psicanálise, como responsável pelo amparo à mãe e pela introdução dos limites necessários ao bom desenvolvimento emocional.
Mas, o que isto tem a ver com sua vida futura?
Na vida nem sempre vamos nos deparar com coisas boas. Pelo contrário. Na vida, nos deparamos com inúmeros obstáculos para alcançar nossos desejos e sonhos. Se eles não se acostumarem com isso na infância, depois irão sofrer muito mais frustrações. Então, limitando, estamos preparando nosso filho para vida adulta. É preciso aprender a lidar com o sentimento da perda, afinal, a vida não é feita só de conquistas.
É claro que ao dizer não, precisamos de argumentos que esclareçam, precisamos de calma. Não queremos que nosso filho ache que estamos agindo de forma irracional e nem sinta medo de pedir algo que ele deseja. Devemos estar ali orientando e protegendo nossos filhos e eles precisam gostar e ver sentido nisso. Caso contrário, se iniciam as mentiras e ocultações. Tudo deve ser conduzido na conversa e não na repreensão.
Apesar de todos os ensinamentos que o "não" traz, sabemos que nada em excesso faz bem. Quando a criança recebe o não de forma excessiva, com argumentos fracos, o sentido acaba se perdendo. A criança precisa entender quando ela vai receber não para que se antecipe com o tempo, aprendendo exatamente o contexto em que ele vem. Se receber toda hora, ele não cumprirá o efeito de aprendizado que desejamos.
Além disso, uma criança repleta de impedimentos vai deixar de vivenciar momentos importantes da infância. Por isso, é importante também saber a hora de dizer sim. Se a criança se comportou bem ao longo da semana, porque não levar ele ao seu parque favorito, brincar do que ele tanto gosta ou até mesmo comprar aquele presente que lhe fará sorrir?
O equilíbrio entre o sim e o não é fundamental
Cada situação é uma, então, é preciso ponderar. É importante que os pais entrem em acordo em relação ao que pode e não pode ser feito, para que assim nenhum ganhe créditos com a criança por dar mais sins, por estar liberando mais do que seria justo, ou o outro perder créditos por dar mais nãos do que deveria.
Enfim, lembre-se: Dizer não também é um ato de amor!
E que, no dia das Crianças, possamos todos amar nossas crianças, verdadeiramente!