Os Nós da Mente
Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Gabriel Fallaci Fernando, formado em Filosofia e mestrando em Literatura Portuguesa, Psicanalista e Pesquisador - @fallaci.f
Atenção: o texto a seguir tem a intenção de mexer com algumas “ideias” comuns, consequentemente, insere-se numa esteira crítica e muito provocativo-irônica.
Se você passou da linha de aviso, bem-vindo a uma espécie de exposed que não exporá ninguém, mas, ao mesmo tempo, muito certamente, fará você lembrar de nomes e rostos imediatamente.
O texto de hoje, deste encerramento de mês, é destinado a todos aqueles que conseguem sair da posição de produto do capitalismo e de uma espécie de lógica de fetichismo material, de uma objetificação de si mesmo e dos outros para pensar: o que a Psicanálise está se tornando no Brasil?
Vemos figuras ilustres, pessoa de grande nome e prestígio, doutores em Psicologia Clínica e, ao mesmo tempo, não vemos nada disso! É cada vez mais frequente observar como os figurões da Psicanálise brasileira parecem, cada dia mais, manequins expostos numa vitrine, alimentando fantasias e idealizações descabidas no público que os acompanha virtualmente, e sendo alimentados por uma massa uniforme de fãs que abandonaram o amor próprio há muito tempo para endeusar uma figura diferente da tradicionalmente divina aceita por nossos sistemas religiosos diversos.
Cursos extremamente caros; formações em instituto completamente descabidas em termos de elitização; eventos acadêmicos e de lançamentos diversos onde não é possível identificar se o que está sendo lançado é um livro/uma pesquisa/um conteúdo ou a nova roupa da figura que está divulgando seu trabalho; podcasts mirabolantes surgindo e sendo alimentados. Eis a Psicanálise brasileira: uma máquina de dinheiro um tanto estranha, um tanto perversa. Eis a Psicanálise brasileira: palco de alguns narcisistas primorosos que agem quase como coachings no que se refere à divulgação de vidas perfeitas.
Cada vez mais, é possível observar uma série de rebanhos se formando em torno de figuras lambuzadas em fantasias e projeções desesperadas de sucesso, atenção, carinho e reconhecimento. Cada vez mais é possível observar – como quase tudo no Brasil – um fanatismo que beira à devoção daqueles que não merecem nada mais do que um reconhecimento por uma boa trajetória de pesquisa e de trabalho psicanalítico.
Contudo, ainda este último ponto – sobre o trabalho psicanalítico – fica em xeque, pois, quando consideramos que certas figuras mostram e dividem em suas redes sociais mais do que a ideia de disclosure permitiria dentro de um setting, mais nos questionamos como é possível que algum analisando de fato consiga projetar tudo que tem dentro de si numa tela que já não está tão em branco assim.
Quando observamos discussões acaloradas e compartilhamentos de informações íntimas em páginas de psicanalistas “famosos” sobre como fulano é atendido por aquela “divindade humana” e como ciclano também faz análise com aquele ser, vemos que, na verdade, o que tem permeado a busca por conteúdos, análise e qualquer migalha de contato com essas figuras não é a Psicanálise por si mesma, mas, apenas o fato de que estes seres – supostamente inalcançáveis – viraram produtos, objetos de um fetichismo material que já havia sido denunciado muito tempo atrás por Karl Marx em sua obra.
Encerro este breve texto deixando apenas uma pergunta: você busca por conteúdo ou por views? A resposta pode não ser tão fácil de ser assumida, mas, acredito seriamente que se encarada com a seriedade que merece, talvez as múltiplas e diversas clínicas psicanalíticas do hoje e do amanhã ainda tenham algum espaço de ética, humanidade e responsabilidade em relação ao que os autores canônicos preconizaram em suas teorias.