
Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!

Renata Fernandes, especialista em psicossomática psicanalítica e mestre em psicologia clínica e hospitalar - @renatafernandespsi
A experiência da paixão e do amor sempre foi um tema central na literatura, nas artes e na vida humana em geral. Desde os primórdios da civilização, os indivíduos têm se apaixonado, buscando a conexão emocional com outro ser humano de forma intensa e, por vezes, irracional. A psicanálise, um dos campos da psicologia que busca compreender as motivações e os processos inconscientes do ser humano, oferece uma abordagem intrigante para compreender o fenômeno da paixão.
De acordo com a teoria psicanalítica de Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, a paixão e o amor têm suas raízes no inconsciente, uma região profunda e obscura da mente humana, onde impulsos, desejos e memórias reprimidas residem. O inconsciente exerce um papel significativo na formação dos relacionamentos amorosos, influenciando nossos sentimentos e comportamentos de maneiras sutis e, por vezes, complexas.
A paixão pode ser vista como um mecanismo de defesa inconsciente para lidar com desejos reprimidos e memórias não resolvidas. Por exemplo, um indivíduo pode se apaixonar por alguém que lembra uma figura importante de sua infância, como o pai ou a mãe. Essa pessoa pode encarnar qualidades ou características semelhantes àquelas que foram admiradas ou desejadas durante a infância, mas que, por algum motivo, foram reprimidas ou não realizadas.
A projeção é outro mecanismo inconsciente que pode desempenhar um papel no enamoramento. Nesse processo, o indivíduo atribui ao objeto de sua paixão características, desejos ou qualidades que, na realidade, pertencem a ele mesmo. Isso acontece muitas vezes de forma inconsciente, sendo um reflexo dos anseios internos do apaixonado.
A busca pelo amor também pode estar enraizada na busca por segurança emocional e apego. De acordo com a teoria do apego, desenvolvida por John Bowlby, a necessidade de estabelecer laços afetivos com outras pessoas é inata no ser humano e se origina desde os primeiros anos de vida. Esses vínculos iniciais, formados com cuidadores primários, moldam a forma como o indivíduo se relacionará afetivamente no futuro.
Assim, a paixão pode ser vista como uma tentativa de satisfazer essas necessidades emocionais não atendidas em fases anteriores da vida. O indivíduo pode buscar inconscientemente em seus relacionamentos românticos uma reparação emocional para feridas passadas ou uma sensação de completude que talvez não tenha experimentado plenamente durante a infância.
Além das perspectivas freudianas, o psicólogo suíço Carl Gustav Jung trouxe a noção de inconsciente coletivo, que representa a camada mais profunda do inconsciente compartilhada por todos os seres humanos. Nesse nível, estão presentes os arquétipos, símbolos e mitos que moldam nossos comportamentos e ideias.
A paixão e o amor também podem ser influenciados por esses elementos arquetípicos, que têm raízes em nossa história evolutiva e cultural. Por exemplo, a figura do "amor romântico" pode ser vista como um arquétipo que molda nossa concepção contemporânea de relacionamentos amorosos.
Outra perspectiva psicanalítica sugere que a paixão e o amor estão relacionados à busca pela integração do self. O amor pode ser visto como um processo de união com o outro, onde o indivíduo busca se fundir emocionalmente e psiquicamente com seu objeto de desejo.
Essa busca por unidade pode ser entendida como uma tentativa inconsciente de superar a fragmentação interna, proporcionando uma sensação temporária de totalidade e plenitude. No entanto, é importante notar que a total fusão com o outro pode ser uma idealização utópica e irrealista, uma vez que somos seres individuais e distintos. Aqui, comumente é onde acontece relacionamentos abusivos.
A paixão e o amor são fenômenos complexos e multifacetados, enraizados em aspectos conscientes e inconscientes do ser humano. Através de uma perspectiva psicanalítica, podemos começar a compreender por que nos apaixonamos, reconhecendo a influência dos desejos reprimidos, necessidades emocionais, projeções inconscientes e arquétipos culturais em nossas vidas amorosas.
É importante notar que a psicanálise oferece apenas uma das muitas perspectivas para entender o amor. Outras abordagens, como a psicologia cognitiva, a neurociência e a sociologia, também podem fornecer insights valiosos sobre esse fascinante aspecto da experiência humana. Em última análise, a paixão e o amor continuarão a ser temas cativantes e enigmáticos que desafiam nossa compreensão e nos inspiram a buscar conexões profundas com outros seres humanos.
No que tange, o que atrai e repele as pessoas, é subjetivo demais e embora as razões pelas quais nos apaixonamos possam ser complexas e variadas, não há dúvida de que o amor é uma força poderosa que enriquece nossas vidas e nos faz sentir vivos. É um elo que nos conecta uns aos outros, transcende barreiras e nos lembra de nossa humanidade compartilhada.
Em última análise, o amor continua sendo um mistério fascinante que nunca será completamente compreendido. A paixão é uma jornada emocionante e imprevisível, e é essa incerteza que torna o amor tão único e valioso em nossas vidas. O importante é abraçar o amor com um coração aberto, valorizando cada momento dessa maravilhosa experiência humana, e de acordo com Freud (1914):
É preciso amar para não adoecer, estamos destinados a cair doentes se em consequência da frustração se formos incapazes de amar.