Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Anna Silvia Rosal de Rosal, psicóloga com formação em psicanálise e doutorado pela PUC-SP - @annasilviarosalrosal
É notória a propagação de mensagens motivacionais e de autoajuda, nos mais diversos meios de Comunicação. As pessoas são influenciadas a não desistirem de seus objetivos, independente do contexto em questão. Afinal, nesse universo, o alcance de metas dependeria unicamente da persistência de quem as pleiteiam. O lema é perseverar – independente das limitações impostas pela realidade externa.
As pessoas que são contaminadas com essa “verdade” costumam repetir, com fervor, frases de efeito que levam ao distanciamento da realidade a seu redor. Então, os únicos critérios considerados passam a ser o desejo e a persistência. O eu quero seria equivalente a eu posso. Bem, e para quem tudo pode, o céu é o limite. Já ouviu essa frase?
Na verdade, o homem vive as voltas com uma batalha entre o princípio do prazer X princípio da realidade (FREUD, 1920). Segundo o psicanalista vienense:
Existe no psiquismo uma forte tendência ao princípio do prazer, mas algumas outras forças ou condições se opõem a isso, de modo que o resultado final não pode corresponder sempre à tendência ao prazer. (p.46). (Grifos nossos).
As forças que se opõem à satisfação do prazer, são: (1) o princípio da realidade e, (2) o ego. A primeira, é soberana e, portanto, se impõe sobre o desejo. Isso implica frustrar, adiar ou desistir da obtenção de algo que não se sustenta no mundo objetivo (ou mundo externo). Assim, instala o desprazer e provoca o mal-estar. Em relação ao ego, esta instância psíquica pode identificar algum perigo ao aproximar-se do objeto de desejo. Desse modo, as forças psíquicas ou pulsões (mundo interno) podem causar desprazer ao se revelarem incompatíveis ao ego, por exemplo, como ocorre em relação ao desprazer neurótico. Em suma, em ambas as situações, o prazer não pode ser atingido em sua totalidade sem causar prejuízos ou mesmo a destruição do homem e/ou da cultura.
As pessoas que atingiram importante grau de maturidade ao longo de seu desenvolvimento tendem a negociar com o desejo e elaborar as perdas sem sofrer em demasia. Ceder em relação ao que se almeja ao integrar dados de realidade protege o sujeito da intempestiva pulsão que o move em direção a ilusória vida idílica. Dito de outro modo, respeitar os limites e renunciar parte (ou até da totalidade) de certas metas protege o homem se seu lado mais primitivo, irracional.
No entanto, quando a sociedade valorizar ignorar o perigo ou não respeitar as limitações que a vida impõe, alimenta a ideia de que o desejo é um poder soberano. Logo, ao ser alcançado garante a ausência de angústia, pois, em tese, evita qualquer frustração. Acontece que não existe vida sem angústia, sem mal-estar – mesmo quando esta parece cor de rosa. Quanto mais rápido se percebe que o limite não é o céu e sim a realidade que nos cerca, mais cedo se desenvolve a capacidade de lidar com a frustração em sucumbir ao mal-estar.