Mc Pipokinha: personagem ou alter ego?

A nova geração vem desenfreada

Os Nós da Mente

Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!

Mc Pipokinha provoca polêmica
Divulgação

Por Lais Sellmer, psicanalista -  @laissellmer

Você já deve ter batido o olho em alguma nota ou vídeo falando da funkeira nessa semana devido à repercussão de algumas polêmicas.

A cantora fez um show polêmico no qual recebe sexo oral de uma mulher nua. Também teceu comentários, provocando a revolta em toda a classe de professores do país, falando dos baixos salários ao comparado com o dela.

Surgirem vídeos de uma rede de pornografia dela trajada de criança num contexto incestuoso e outra praticando zoofilia.

Antes disso víamos uma figura cantando letras de sexo explícito e falando sobre o prazer sexual até mesmo num discurso que parecia pretender defender o direito das mulheres em cantar músicas com teor sexual.

Provavelmente nesse ponto algumas mulheres poderiam concordar, mas o show que começou como uma encenação teatral, portanto, fantasiosa, passou a ir para o concreto.

Existe o limite entre uma personagem e seu autor na arte em geral, seria a parte da técnica, mas quando esse limite não existe e transborda temos um ponto maior que é a identidade e personalidade.

Doroth Helena, o nome da pessoa física da Mc Pipokinha, já deu entrevistas falando de sua história de vida com vulnerabilidade social e que essa personagem teria dado um destino diferente e que agora ela teria casa, comida e recursos. Não seria a primeira artista brasileira a ter uma trajetória assim, sendo uma grande influência para os adolescentes na atualidade.

Assim como Batman e Coringa, que são versões opostas, Doroth e Pipokinha também parecem ser. Doroth com sua vontade de sair da fome, falta de abrigo e segurança tenta sobreviver buscando novas possibilidades. Pipokinha, irreverente, se entrega não só ao imaginário de qualquer fantasia sexual possível, transborda para o real e parece não se atentar aos seus próprios limites e menos ainda aos limites dos outros.

Essa rebeldia e ataque à figuras de autoridade e respeito faz com que adolescentes se identifiquem por estarem no processo da vida de desafiar pais, professores e a curiosidade sobre sexualidade mais aguçada. De fato os shows são para maiores de 18 anos, mas suas músicas são ouvidas em toda rede e trechos dos shows também.

Pais desesperados tentam reprimir ou até mesmo apontar os esqueletos do armário de Doroth, revivendo de forma inconsciente o mesmo processo que vivenciaram na adolescência dos pais tentando afastar os filhos das influências externas. E não adianta argumentar que no meu tempo não era assim, porque era! A geração Beatles não pode se esconder dessa. Claro que as restrições e rebeldia eram diferentes, mas aqui vai a dica para os pais!

Lembrem-se da sua adolescência!

O funk veio para mostrar a realidade da periferia e é um movimento que ganha força inclusive no exterior, mas existe um movimento do funk feminino como Tati Quebra Barraco, Valeska Popozuda, Mc Carol e Anitta que o foco era dar a mesma oportunidade que os homens tinham de abordar temas como a sexualidade.

A nova geração vem desenfreada tentando exceder qualquer barreira imposta, mesmo que essa barreira seja a própria segurança. 

No caso da Pipokinha parece confuso quem é a primeira e segunda pessoa desse possível alterego, parecendo alguém até com o que chamamos de falso self. 

Falso self seria uma forma da personalidade criar uma capa protetora para que o verdadeiro eu sobreviva ou as dificuldades do ambiente como a falta relação objetal. Traduzindo, talvez a nova geração se identifique mais ainda com essa fragilidade e sofrimento psíquico do que com as trancinhas e sobrancelhas rosas

Vivemos num país onde a miséria vai além da falta de alimento, moradia e saneamento básico, estamos num momento onde a saúde mental está comprometida. Famílias adoecidas, onde a violência e drogas estão presentes. Fazendo com que crianças e adolescentes sejam expostos a situações que não possuem maturidade emocional para elaborar. Pais cada vez mais perdidos em seus papéis, muitas vezes não sabendo como conversar e se relacionar com os filhos. A criança e o adolescente saem em busca de alguém que possam se identificar.

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