Os Nós da Mente
Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Lais Sellmer, Psicóloga e psicanalista, @laissellmer
Vemos muitas chamadas falando sobre a obesidade matar, mas poucas pessoas dão atenção ao sofrimento psíquico imposto para a pessoa gorda.
Gabrielli, recém-formada em Medicina Veterinária vislumbrou um vestido lindo para sua formatura feito para seu corpo, contudo foi alvo de piadas na internet a comparando com um botijão de gás.
Segundo relatos da mãe, as pessoas que circularam a piada eram próximas e sabiam do quadro depressivo e o quanto a gordofobia afetava Gabrielli, mesmo assim, seguiram adiante. Mesmo após ter pedido para as pessoas pararem, as chacotas continuaram e Gabrielli não aguentou, parou a dor interrompendo a própria vida.
A família fez a denúncia por estarem com uma dor e raiva tremenda, eram pessoas que se diziam amigas e frequentavam a casa de Gabrielli.
Não é o primeiro caso que chega ao meu conhecimento sobre morte por um desdobramento da gordofobia e, infelizmente, não acredito que seja o último.
Quando as pessoas veem nas redes sociais influenciadores gordos vivendo suas vidas, desfilando e postando fotos deles felizes, muito acusam que é uma romantização da obesidade, e isso, também é um ataque. Para as pessoas que acreditam que o corpo gordo é doente e atacam a pessoa só por estar vivendo, está sendo perverso e cruel.
Vivemos numa sociedade cruel e narcisista, na qual os juízes de corpos e moralidade se sentem confortáveis de impor suas convicções e agressões independente se isso ultrapassa o limite do outro.
Freud discorreu sobre o preconceito ser uma marca narcisística, também trouxe o como pessoas que sofriam as agressões sociais precisavam se refugiar no narcisismo primário, na fase que nossa libido está voltada para nós. Contudo, fico pensando que tipo de análise daria conta de tamanha agressão vivenciada por Gabrielli e por tantas outras pessoas.
Penso que precisa ter algo que imponha o limite, se o pedido de uma pessoa não vale, talvez precisamos olhar para a ausência do superego, nosso sistema de regras e valores, as pessoas se sentem à vontade em agredir o outro sem medir as consequências e ter algum tipo de respeito. Talvez, os movimentos ativistas que buscam a criminalização da gordofobia sejam para que a lei possa exercer a função do superego para que casos como esse não fiquem impunes.
Gabrielli estava focada em sua formação e início de carreira, nisso vemos que havia vontade de viver e fazer coisas, mas, a dor e o sofrimento a levaram pensar em meios de parar a dor e, possivelmente, viu no suicídio a única alternativa.
Casos como esse precisam ser denunciados para que possamos, como analistas, ter a escuta adequada para poder acolher um sofrimento que vai além para a interpretação pessoal. A gordofobia é uma agressão que exclui pessoas do convívio social, acesso a tratamentos médicos, mercado de trabalho, transporte público, acessibilidade de lazer e pertencimento social. É preciso ter uma escuta adequada para ouvir essa dor e acolher.