Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Renata Fernandes, Mestre em psicologia clínica e hospitalar - @renatafernandespsi
Os relacionamentos humanos são intrincados e, muitas vezes, desafiadores. Um aspecto particularmente sombrio dos relacionamentos é o fenômeno dos relacionamentos abusivos, nos quais uma das partes exerce controle, poder e manipulação sobre a outra. Para compreender mais profundamente essa dinâmica complexa, podemos lançar luz sobre o tema dos relacionamentos abusivos sob a perspectiva da psicanálise
Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise, argumentava que nossas ações e emoções são profundamente influenciadas por forças inconscientes e motivos reprimidos. Essas forças, muitas vezes, têm origem na infância e moldam nossa personalidade e comportamento ao longo da vida. Quando se trata de relacionamentos abusivos, a psicanálise pode nos ajudar a explorar esses aspectos ocultos da psique humana.
A dinâmica dos relacionamentos abusivos pode ser complexa e multifacetada. De acordo com a psicanálise, o agressor em um relacionamento abusivo pode estar agindo como resultado de conflitos internos não resolvidos e mecanismos de defesa mal adaptativos. O agressor pode estar projetando suas próprias inseguranças e ansiedades na vítima, exercendo poder e controle como uma forma de lidar com seu próprio sofrimento interno.
Por outro lado, a vítima de um relacionamento abusivo pode estar presa em um ciclo de repetição, que a psicanálise chama de "compulsão à repetição". Isso pode envolver a busca inconsciente de relacionamentos semelhantes aos vivenciados na infância, na tentativa de corrigir experiências traumáticas passadas. Infelizmente, isso pode resultar em um ciclo de abuso contínuo e indubitavelmente de muito sofrimento.
Importante ressaltar, que esses tipos de vínculo não somente acontecem no que chamamos de amor romântico. Líderes, pais e filhos, irmãos e até mesmo entre terapeuta e pacientes ou qualquer outro tipo de parceria, este vínculo desditoso pode se estabelecer.
A psicanálise também analisa os papéis do ego e do superego nos relacionamentos abusivos. O ego, que age como um mediador entre os impulsos do id e as normas morais do superego, pode estar enfraquecido em indivíduos envolvidos em relacionamentos abusivos. Isso pode levar a comportamentos impulsivos e à dificuldade em resistir aos impulsos destrutivos.
O superego, por sua vez, pode estar internalizando normas distorcidas ou valores prejudiciais, que justificam ou permitem o comportamento abusivo. A psicanálise enfatiza a importância de identificar e desafiar essas distorções para promover o entendimento e, consequentemente, uma qualidade satisfatória nos relacionamentos.
Para aqueles que buscam ajuda em relacionamentos abusivos, a terapia psicanalítica pode ser uma abordagem valiosa. Através da psicanálise, os indivíduos podem explorar suas motivações inconscientes, identificar padrões de comportamento destrutivo e trabalhar para desvendar os conflitos internos que contribuem para a dinâmica abusiva.
No entanto, é importante observar que a psicanálise é uma abordagem que exige tempo e autorreflexão, não fornecendo soluções rápidas. Além disso, em casos de abuso grave, pode ser necessário procurar apoio adicional, como a intervenção de profissionais de saúde mental e serviços de apoio.
A psicanálise oferece uma perspectiva profunda sobre os relacionamentos abusivos, explorando as forças inconscientes e os conflitos internos que contribuem para essa dinâmica complexa. Compreender a psique de agressores e vítimas é essencial para lidar com relacionamentos abusivos de forma eficaz e promover a cura. A terapia psicanalítica, quando utilizada em conjunto com outras formas de apoio, pode ser uma ferramenta valiosa na jornada de recuperação e transformação.