Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Anna Silvia Rosal de Rosal, psicóloga com formação em psicanálise e doutorado pela PUC SP - @annasilviarosalrosal
As ideias apresentadas a seguir se apoiam no conceito de psicanálise enquanto uma atividade executada e difundida por profissionais e instituições que, de fato, seguem o método psicanalítico em sua essência. À primeira vista, essa colocação pode parecer um tanto desnecessária ou simplista. Sua importância, porém, consiste em balizar o que é óbvio entre psicanalistas, mas ignorado fora desse ambiente. Meu objetivo aqui é chamar a atenção para a apropriação equivocada da denominação psicanalista, como observado atualmente no Brasil. Com isso, talvez possa favorecer – em alguma medida – o entendimento do ofício do psicanalista.
Durante a pandemia da COVID-19 a busca pela psicanálise cresceu vertiginosamente. Em paralelo, a oferta desse serviço também aumentou em igual ou maior proporção. A relação entre a pandemia e o aumento da procura do tratamento psicanalítico é autoexplicativa. O cenário de horror, a intensidade das mudanças e os desafios que esse contexto instalou em nosso meio falam por si. Já o crescimento da oferta desse serviço não parece óbvio. Isto porque a formação em psicanálise é extensa. Tornar-se psicanalista requer tempo e implicação. A formação desse profissional é orientada para o desenvolvimento do que fora indicado por Freud, a saber: (1) análise pessoal; (b) supervisão de casos clínicos, e; (3) o estudo aprofundado da teoria e da técnica. O chamado tripé psicanalítico se efetiva quando cada um de seus elementos está fundamentado na ética psicanalítica. Trocando em miúdos, a formação e, consequentemente, o exercício da psicanálise estão atrelados a solidez do percurso adotado por seus postulantes. Bem, mas quem não seguiu as indicações de Dr. Freud? Me refiro as pessoas que buscaram um caminho mais curto em direção ao tornar-se psicanalista.
De acordo com Freud (1893), a clínica psicanalítica se configura a partir dos seguintes pontos:
A aceitação de processos psíquicos inconscientes, o reconhecimento da doutrina da resistência e do recalcamento e a consideração da sexualidade e do complexo de Édipo são os conteúdos principais da psicanálise e os fundamentos de sua teoria, e quem não estiver em condições de subscrever todos eles, não deve figurar entre os psicanalistas.
No entanto, tornou-se comum terapeutas se apresentarem como psicanalistas, coach e consteladores familiares, ao mesmo tempo. Essa ideia é incompatível com os fundamentos da disciplina fundada por Freud. Além de cada teoria defender uma concepção de homem, a psicanálise é a única que orbita em torno dos elementos intrapsíquicos, em especial, do inconsciente. À vista disso, quem se apresenta como praticante de tantos métodos atesta desconhecer a psicanálise. Consequentemente, não a exerce. Então, por que anunciar o contrário? A compreensão dessa questão passa por vários aspectos. Todos, porém, parecem se alimentar da distorção da ideia de que um psicanalista não se forma em um curso, mas ao longo de um percurso. Essa direção, apesar de individual e personalizada, sustenta-se nos pilares supracitados. Na contramão, os autointitulados psicanalistas parecem ouvir o seguinte: um curso ou grupo de estudos em psicanálise é suficiente para tornar-se psicanalista, independente da consistência destes. Isso sem falar dos demais pilares: análise pessoal e supervisão de casos clínicos.
As pessoas que conhecem o método em questão facilmente percebem a fragilidade do discurso que se distancia de sua essência. Mas, importante parcela da população desconhece os fundamentos dessa clínica. Assim, ficam suscetíveis a relações terapêuticas confusas, frágeis e ineficientes. Por outro lado, a psicanálise não é o único método de tratamento eficaz. Cada Escola tem uma estrutura específica e objetivos definidos. Então, por que tais terapeutas não se dedicam a busca do método que melhor dialoga com sua concepção de homem? A partir disso, poderão se dedicar a construção de uma clínica ética e transparente. Ao mesmo tempo, poupariam a confusão gerada em torno da psicanálise.