Barbie, psicologia de massas e consumismo

Os Nós da Mente

Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!

Lançamento do filme "Barbie" despertou um novo frenesi em torno da boneca
Lançamento do filme "Barbie" despertou um novo frenesi em torno da boneca
Divulgação/Warner Bros

Por: Vera Lúcia B. Baroni, psicanalista - @vera.bbaroni_psi

“Não se pode controlar o próprio povo pela força, mas se pode distraí-lo com consumismo”. (Noam Chomsky)

A história por trás da icônica boneca Barbie pode surpreender! Inspirada na boneca alemã Bild Lilli, voltada originalmente para um público adulto masculino como entretenimento erótico, a visionária Ruth Handler, executiva da empresa Mattel, adaptou essa ideia e criou uma versão americana à qual deu o nome de Barbie, com traços mais suaves e voltada para o público infantil. O lançamento, em 1959, foi um sucesso e a boneca encantou crianças em todo o mundo por várias décadas.

Mas, será que apesar de todo esse encantamento, a influência da Barbie no imaginário infantil pode ser prejudicial? Críticas surgiram, apontando que o universo glamuroso da boneca promove uma adultização precoce das crianças, além de perpetuar a cultura do consumismo ao levar seus fãs a uma busca incessante por produtos e bens materiais, para se aproximarem de um ideal, muitas vezes, inatingível. Os padrões de beleza, riqueza e sucesso da Barbie geram sentimentos de inadequação e frustração em muitas pessoas, especialmente crianças e adolescentes, que se sentem pressionados a se adequarem a esses padrões.

Apesar dessas críticas e da queda nas vendas da boneca nos últimos anos, o recente lançamento do filme "Barbie" despertou um novo frenesi em torno da boneca. Num mundo que busca inclusão, aceitação da diversidade e desconstrução de estereótipos, o universo cor de rosa e estereotipado da Barbie pode causar desconforto e questionamentos. Então, por que, mesmo diante das críticas e do desinteresse pela boneca, que vinha crescendo no passado recente, o público se rendeu ao apelo consumista desse ícone controverso? A resposta à essa indagação está na estratégia de Marketing cuidadosamente planejada para o filme, que influenciou o imaginário do público e gerou uma onda cor de rosa, que invadiu a decoração de lojas, clínicas e espaços públicos e levou uma multidão a abraçar o universo da boneca com entusiasmo, vestindo-se de rosa para assistir ao filme. Foi a máquina da psicologia de massas que entrou em ação!

“O homem moderno vive sob a ilusão de que sabe o que quer, quando na verdade ele deseja aquilo que se espera que ele queira”. (Eric Fromm)

Essa citação ressoa poderosamente no contexto do fascínio atual em torno da Barbie, claramente impulsionado pelos interesses mercadológicos em torno do lançamento do filme e do consumo dos produtos a ele associados.

Sigmund Freud e sua teoria da Psicologia das Massas nos ajuda a entender esse fenômeno. O efeito de contágio emocional é um aspecto importante da psicologia das massas, e o Marketing em torno do filme da Barbie despertou esse contágio, atraindo a atenção e o interesse do público em larga escala. Além disso, a busca por pertencimento e a identificação com os valores representados pelo mundo da Barbie alimentam esse frenesi, impulsionando a fuga temporária do mundo real para o universo de fantasia e glamour associado à boneca.

Porém, ao observarmos esse frenesi coletivo, precisamos refletir sobre a verdadeira mensagem que está sendo transmitida. Será que fugir, ainda que temporariamente, para um mundo de fantasia e glamour vai nos ajudar a superar nossas angústias e inseguranças? Será que estamos realmente estimulando a inclusão, a valorização da diversidade e a desconstrução de estereótipos, ou estamos nos perdendo em distrações vazias que só nos levam à alienação de nós mesmos e ao consumo irrefletido?

O apelo ao mundo encantado da Barbie esconde uma realidade sombria, onde nossos desejos e inseguranças são explorados, e onde a busca pela perfeição nos distancia cada vez mais da genuína aceitação de nós mesmos. É hora de despertarmos do feitiço da manipulação midiática e questionarmos o que realmente importa em nossas vidas. Afinal, não é nos deixando controlar por distrações vazias que alcançaremos a verdadeira satisfação, mas, sim, através do autoconhecimento e da valorização do que realmente somos.