Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!
Por Igor Alexandre Capelatto, psicanalista - linktr.ee/igorcapelatto
O tempo do luto é o tempo da dor de cada um. Mas, esse tempo não pode se tornar um lugar eterno do sofrimento, se tornar um lugar da melancolia e estacionar a pessoa para todo o sempre. Respeitar o tempo do luto é fundamental, mas, é preciso perceber sinais de quando esse luto está se alastrando e não cumprindo com todas as suas etapas. Muitas vezes, crianças e adolescentes não conseguem passar pelas etapas do luto e se mantém na dor da perda de modo depressivo, estagnados, sem elaborarem a perda quando não conseguem, ou não são permitidos falar dessa dor, expor a raiva. Às vezes, não conseguem suportar o mundo lá fora pois o mundo cobra algo dessa criança ou adolescente que ela não se sente segura em realizar. A perda do outro traz muito medo. Tudo se torna uma ameaça de perda. E junto a esse medo, existe um lugar de culpa: culpa de não ter feito nada para ajudar o outro que veio a falecer, culpa de não ter dito tudo que queria e, às vezes, a necessidade de culpar um outro pela morte – mas se não é permissível ter raiva de um outro e ‘poder culpar’, essa culpa não manifestada vira sintomas prejudiciais, ligados à depressão e ansiedade, por exemplo. Às vezes a pessoa veio a falecer de uma doença que não tem um sujeito responsável para culpar e, então, fica mais difícil ainda por raiva para fora.
Como perceber qual a hora de ajudar a criança ou o adolescente sair do luto? Quando algumas funções básicas do dia a dia começam a ser prejudicadas de forma intensiva. Os sinais são doenças recorrentes, a perda escolar (que não é mais de alguns dias ou semanas, mas de meses), a não interação com os amigos. A perda de interesse nos fazeres da vida, não conseguem se concentrar nos estudos, não têm vontade de brincar, de sair com a família, com os amigos, de ir ao cinema, dentre outras atividades. Pai e mãe, nesta hora, não devem cobrar, exigir que saiam do luto, não devem acusá-los de não estarem tomando iniciativa de mudança, de fazê-los se sentirem errados por estarem sofrendo pela perda. A ajuda dos pais nesta hora é fazer com que o filho/filha consiga dar um sentido e realizar o luto – é falar do que está sentindo, poder ter raiva e transformar a dor da perda em uma saudade. Criar um cantinho em que possa conectar-se simbolicamente com a pessoa que faleceu (lembrar das coisas boas).
“Minha avó disse que a morte não existe. Ela acreditava que só morremos quando os outros nos esquecem.” - Miguel em Viva – A Vida É Uma Festa
O mais comum dos equívocos é achar que evitar “falar da morte”, do falecido, vai ajudar a não pensar na dor. Pelo contrário, ameniza a dor que está presa. Se a criança ou adolescente quiser ir ao cemitério, por exemplo, deve-se ir com eles, se quiser ver fotos ou ouvir histórias sobre a pessoa falecida deve-se falar sobre. Não é fácil, pois quando a perda não é de colegas, professores, mas de um parente próximo, o pai ou a mãe também estão sofrendo. Neste caso, pai e mãe também devem, como parte do luto pessoal e do luto do filho(a) falar da sua dor, da sua raiva. Mostrar que também estão sofrendo aquela perda. Outra ideia equivocada é achar que tem de ser forte para poder cuidar dos filhos. Quando se esconde a angústia, o medo e a raiva, da dor da perda, e se coloca no lugar de alguém forte, na verdade, está na verdade fazendo com os filhos sintam-se culpados por eles não estarem sendo fortes também, e acaba que todos (pais e filhos) velam-se de falar da dor da perda. E, consequentemente, nascem os sintomas prejudiciais recorrentes.
É preciso também, para que o luto aconteça, poder simbolizar,, dar um sentido à perda. Principalmente, quando a perda é por conta de lago que não tem um sujeito responsável para transferir a raiva. É preciso “inventar” o inimigo para dar conta da dor da perda. E preencher o vazio, reconstruindo o mundo interior (a relação segura do outro, o lugar do outro) que rompeu-se.
“A reconstrução desse mundo interior destaca o trabalho de luto bem-sucedido – Melanie Klein, 1940.”
E, em conjunto, a procura de ajuda de profissional da área da saúde mental (psicanalista ou psicólogo) é essencial, não somente para a criança e adolescente, mas aos pais quando precisam de orientação de como ajudar os filhos no luto, principalmente, quando eles também passam pelo luto.