A realidade como expressão simbólica das experiências emocionais internas

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Os Nós da Mente

Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!

A realidade como expressão simbólica das experiências emocionais internas
Divulgação

Por Igor Camargo, psicólogo - @igorcamargopsi

 

A partir da compreensão da constituição do indivíduo, considerando os fatores biológicos, psíquicos e sociais, podemos perceber a riqueza do nosso mundo interno, pela complexidade de elementos que formam as narrativas, das supostas verdades em nossa cultura. Essa produção de sentido, se manifesta como uma forma simbólica de construir na realidade, experiências emocionais inerentes ao nosso potencial de vir a ser, dentro do desenvolvimento psíquico esperado. Desta forma, podemos inferir que a realidade por si só, não surge como algo dissociado do indivíduo, mas sim, como uma maneira de explicar aquilo que internamente experenciamos, e que encontra seu significado na concretude de crenças, ideias, fenômenos sociais e produções artísticas. Todos compondo aquilo que chamamos de cultura no grupo, em algum tempo histórico e local geográfico específico. 

Seguindo o princípio de que nossas necessidades internas constituem a cultura, e está por sua vez, valida o que somos. Podemos perceber no zeitgeist atual, um movimento de manutenção de comportamentos, percepções e características inerentes a fase e posição inicial do desenvolvimento psíquico.   

Em sua teoria, Melanie Klein (1932) expressa que a criança se desenvolve nos primeiros meses de vida, percebendo o cuidador primário como um objeto clivado, tendo na satisfação das necessidades biológicas uma busca inata e constante, em função de sobreviver a esse novo contexto fora do útero de sua mãe.  Estamos aí no que ela denomina de posição esquizoparanoide, onde existe um indivíduo que desde o nascimento é exposto a polaridade inata dos instintos, sendo assim, o bebê é capaz de experimentar ansiedades intoleráveis, vindo a utilizar mecanismos de defesa na formação das relações de objeto primitivas no contato com a realidade.

Este Ego primitivo sob a influência do instinto de morte e de uma ansiedade intolerável, sucumbe a uma desintegração defensiva, variando dia a dia, conforme suas relações com os cuidadores e sua própria capacidade de integração. Assim, o Ego se divide através do Splitting, projetando e convertendo o instinto de morte em um objeto externo, que ele percebe como perseguidor. Da mesma forma, o Ego estabelece uma fantasia na relação de objeto ideal, a libido assim é projetada em forma de amor para este objeto com quem ele experiência gratificantes vivencias com a mãe real, que o satisfaz na busca pela preservação da vida. Um dos mecanismos regressivos utilizados por estes indivíduos, que tiveram estas experiências de invasão excessiva, foi nomeado por Melanie Klein (1932) como identificação projetiva, onde parte do próprio self é projetada em um objeto externo, passando a identificar e perceber este com características agressivas do seu próprio Ego desintegrado, revivendo o trauma e seu excesso.

Assim, podemos perceber na construção de sentido e significado em diversos fenômenos sociais a formulação de narrativas com estrutura de pensamento baseado no dualismo e na percepção parcial dos objetos.

A necessidade de tornar concreto e conseguir expressar nossa subjetividade, fez da arte, um campo potente para toda forma de construir sentido. No cinema, temos histórias que conquistam maciça identificação de seus espectadores, através de enredos focados inteiramente no dualismo, e ambivalência na luta do “bem” contra o “mau”. São construídos personagens protagonistas, com características idealizadas, com virtudes de herói, e comportamentos altruístas. Sua estética também carrega o viés de características físicas historicamente associadas ao belo da época, sem espaço para qualquer representação de falta ou defeito. De outra forma seus antagonistas são criados para representarem exatamente o oposto do que é a virtude, um vilão que apresenta então comportamentos que exemplificam o exato contrário a moral estabelecida, deixando livre o espaço de projeção daquilo que o sujeito não deseja perceber e reconhecer em seu herói ou em si mesmo.

Mas aquele enredo que se apresenta como obra em uma produção artística, também tem sido percebido em diversas cenas de fenômenos sociais. São construídas narrativas que expressam o dualismo e a percepção de objeto ideal, transformando a realidade em espaço de projeção daquilo que surge de uma posição, e necessidade interna. Vemos isso na política (direita x esquerda), na religião (bem x mau), na ideia de moral (certo x errado) e em vários outros fenômenos onde o humano tocou e construiu significado. 

 À medida que reconhecemos essa dinâmica de percepção parcial e clivada, na construção simbólica daquilo que nomeamos realidade, encontramos aí, um campo de espaço fértil e potente, com possibilidade de intervenções voltadas para transcender essa posição de polarização inata das experiências emocionais iniciais internas. Buscando uma visão mais ampla, inclusiva e integrada das relações de objeto. Construindo novas narrativas com capacidade de apreciar as diferenças, e todas as riquezas das múltiplas perspectivas que compõem a tapeçaria complexa da experiência humana, como uma totalidade integrada.

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