A operação "Berna”, deflagrada pela Polícia Civil de Capivari (SP) na manhã desta terça-feira (02), prendeu três homens acusados de abusar sexualmente de vulneráveis – menores de 14 anos ou incapazes de consentir com o ato sexual – e dois por violência doméstica. Além disso, indiciou um professor de educação física acusado de assediar alunas e outro homem por violência física e psicológica.
Ao todo, os policiais cumpriram buscas em 6 endereços e 5 mandados de prisão. A ação foi comandada pela delegada titular, Drª Maria Luísa Dalla Bernardina, contou com o apoio da Guarda Civil Municipal de Capivari.
Uma das prisões aconteceu em Elias Fausto (SP), onde um homem de 29 anos foi preso e está sendo investigado por estuprar a própria filha de 2 anos.
A segunda vítima de violência sexual também tem 2 anos e foi violentada pelo pai, que, segundo a polícia “se aproveitou desse vínculo para praticar os abusos sexuais”.
O terceiro homem preso por violência sexual contra vulnerável é padrasto da vítima, que apesar de ter 23 anos, tem idade mental reduzida por possuir deficiência mental. A prisão aconteceu em Rafard (SP) mediante mandado de prisão temporária contra o homem de 51 anos.
As prisões reforçam um dado apontado pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2018:
Em 76% dos casos de estupro de vulnerável, o agressor é um parente ou amigo próximo à família da vítima e o abuso acontece em ambiente familiar.
Um professor de educação física na cidade de Elias Fausto também foi alvo da operação, que realizou buscas em sua residência, após ser acusado por importunação sexual contra seis alunas.
Além das prisões envolvendo crimes sexuais contra crianças e adolescentes, a ação também prendeu dois homens já condenadas por violência doméstica. Um mandado de busca também foi cumprido na casa de um terceiro suspeito, investigado por violência doméstica, tortura e violência psicológica. Ele também foi indiciado e foi expedida medida protetiva para a vítima.
Escândalo de Berna
A operação “Berna” tem o objetivo, segundo a Polícia Civil, de romper esse paradigma, busca fazer com que não se repitam casos como o escândalo de Berna, combatendo crimes de violência sexual no âmbito doméstico e familiar.
O nome da operação faz alusão ao 'Escândalo de Berna', crime que ocorreu em 1987 na Suíça, na cidade de Berna, onde quatro jogadores brasileiros estupraram uma adolescente de 13 anos em seu quarto de hotel e ficaram presos por um mês no país.
Após um mês, os jogadores foram libertos da cadeia com o fundamento de que não havia evidências de que ocorreu violência de fato. Um ano depois, os quatro foram condenados por atentado violento ao pudor contra a adolescente, mas já estavam no Brasil. Como o Brasil não extradita seus cidadãos e não possui acordo de extradição com a Suíça, os jogadores seguiram normalmente suas vidas. No Brasil, foram vistos, na época, como vítimas da situação.
A partir disso, os responsáveis pela investigação dizem que nota-se como a violência sexual era normalizada pela sociedade brasileira e como a cultura do estupro operava em nosso país. A imprensa defendia como “um deslize de ordem sexual” a conduta dos jogadores, sendo algo normalizado pela leitura da opinião pública.