HC da Unicamp realiza cirurgia inédita de remoção de tumor

Procedimento é indicado para alguns tipos de câncer primários ou secundários como os de fígado, rim e pulmão; é menos invasivo pois não tem necessidade de incisões ou cortes na pela

Amanda Florentino

Cirurgia inédita realizada no HC da Unicamp
Divulgação/Unicamp

A equipe da Radiologia Intervencionista do Departamento de Radiologia do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp realizou a remoção de um tumor de fígado por meio da técnica de ablação por micro-ondas. A ablação por micro-ondas é uma técnica com alto potencial no tratamento de pacientes com câncer. A técnica chegou ao Brasil em 2019 e é usada com sucesso em vários hospitais privados, entretanto, essa foi a primeira vez que esse procedimento foi usado num hospital público do interior do Estado de São Paulo.

A técnica foi aplicada no final de março em um paciente de 57 anos natural de Salinas, MG, mas morador da cidade de Americana, SP, e que faz acompanhamento no HC da Unicamp desde 2017. O procedimento durou duas horas. Após a ablação por micro-ondas, de acordo com a equipe médica, o paciente não apresentou queixas significativas e ficou em observação por 24 horas, até ter alta hospitalar.

De acordo com médico radiologista Thiago José Penachim, coordenador do grupo de Radiologia Intervencionista do HC Unicamp e líder da equipe que realizou o procedimento, a ablação por micro-ondas é indicada para alguns tipos de câncer primários ou secundários de fígado, rim, pulmão, adrenais, ossos e musculoadiposas, e é considerada uma excelente opção para o tratamento de lesões de uma forma menos invasiva e mais rápida, sem a necessidade de incisões ou cortes na pele.

“Para alguns tipos de câncer, as técnicas ablativas demonstram resultados semelhantes àqueles obtidos através de cirurgias, com a vantagem do paciente ter rápida recuperação com alta após um dia de internação na maioria dos casos, além de preservar a função dos órgãos nos quais o tumor está alojado. A menor invasividade deste tratamento permite que o procedimento seja repetido, caso necessário, em situações como o ressurgimento de novas lesões ou tumores residuais”, explica Thiago.

Como funciona o procedimento

O procedimento é realizado com o paciente sob anestesia geral ou em alguns casos apenas com sedação consciente. O médico, então, introduz uma agulha, cuja extremidade deve ficar posicionada no interior do tumor. Para a inserção da agulha, utiliza-se de métodos de imagem como ultrassom e tomografia computadorizada que permitem guiar o especialista por meio de imagens em tempo real, com a visualização da posição da agulha e da lesão.

Após confirmação do adequado posicionamento da agulha de maneira precisa no interior da lesão, um gerador é acionado, levando a emissão de micro-ondas na ponta da agulha, que por sua vez provoca a movimentação de moléculas de água, com elevação local da temperatura acima de 70ºC e destruição da lesão pelo calor em poucos minutos, sem a necessidade de removê-lo cirurgicamente.

Apesar das indicações dos procedimentos ablativos serem bastante amplas, nem todos os pacientes com câncer podem se beneficiar da nova técnica, uma vez que condições como o tipo e natureza do tumor, seu tamanho e localização influenciam diretamente na escolha do tipo terapia oncológica, que deve ser individualizado para cada paciente.

“A decisão do melhor tipo de terapia a ser instituído deve ser feita através de discussão multidisciplinar entre diferentes especialidades médicas envolvidas no tratamento – oncologista, cirurgião, radioterapeuta e radiologista intervencionista – e, principalmente, pelo paciente”, ressalta Thiago.

Procedimento não é disponível pelo SUS

Apesar dessa técnica fazer parte dos procedimentos autorizados pela Agência Nacional de Saúde (ANS) do setor privado de saúde, a ablação por micro-ondas ainda não tem regulamentação no Sistema Único de Saúde (SUS). O procedimento realizado no HC da Unicamp só foi possível devido à doação do material pela empresa Angiodynamics. 

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