
Francisco cresceu em um ambiente conturbado e sofreu com as agressões do pai alcoólatra. Revoltado e com ódio, ele entrou para o mundo das drogas e do crime.
Por conta da mãe, ele tentou mudar de vida, mas enfrentou a fome, o frio e a falta de apoio dos familiares. Mais tarde, conheceu uma moça com quem teve um filho, o Darlan.
Foi ali que tudo mudou. Confira mais uma história emocionante do “Quem Ama Não Esquece”, programa da Band FM.
O vício que me tirou tudo
Nem sempre é fácil quebrar o ciclo. Às vezes, a vida nos empurra para um caminho que parece inevitável, mas a verdade é que sempre existe uma chance de você mudar...
Esa é uma história sobre queda, luta e recomeço. Por muito tempo, a minha vida foi um reflexo da infância que eu tive. Não que eu culpe os meus pais por tudo o que passei, mas eu sei que o que aconteceu comigo moldou as escolhas que eu fiz.
Muitas dessas escolhas foram erradas. Eu cresci em uma cidade muito pequena no interior do Ceará, onde a violência era parte do meu dia a dia. Eu morava com os meus pais e os meus irmãos e nenhum de nós conseguia fugir da fúria do meu pai.
Ele sempre bateu muito em todos nós e nem precisava de motivo para isso. Era o álcool que falava mais alto. Quando ele bebia, ele se transformava. Apanhar era horrível, mas ver ele batendo na minha mãe era muito pior.
Cada vez que eu presenciava uma cena daquelas, parecia que ele estava arrancando um pedaço de mim. Eu cresci com muita raiva, muito ódio no coração porque ela não merecia aquilo.
Eu me tornei um adolescente revoltado e, com 15 anos, eu fui pelo caminho errado da vida. Eu passei a andar com gente que não prestava e a usar drogas.
No fundo, eu sabia que não era bom. Eu não aguentava mais a vida que eu tinha. Eu estava cansado, exausto, e tudo o que eu queria era esquecer tudo o que acontecia dentro da minha casa, a minha mãe sendo agredida, os meus irmãos apavorados toda vez que meu pai chegava perto, os gritos, a tristeza.
Eu me sentia um menino destruído por dentro. Aos 16, peguei em uma arma pela primeira vez e, aos 17, cometi o primeiro de muitos crimes.
- Meu filho, por favor, sua mãe está te implorando. Saia dessa vida. Isso não vai te levar a lugar nenhum.
- Mãe, eu estou cansado. Essa vida não presta mesmo.
- Francisco, não fala assim. Eu poso te ajudar. Tudo o que eu fiz até hoje por você, pelos seus irmãos, foi só para o bem de vocês.
- Esse lugar me estraga. Eu preciso sair daqui. Preciso ir embora. Aqui eu nunca vou conseguir. Aqui, ou eu sou pego, ou eu acabo morto.
- Então vai, meu filho. Mas, pelo amor de Deus, eu preciso que você fique bem, que você fique limpo. Me prometa que vai tentar, que vai lutar. Por favor, meu filho.
Eu era novo, tinha muitos traumas, muitas feridas ainda abertas, não pensava muito, mas eu sabia que minha mãe estava certa. Eu tinha que tomar um jeito. Então eu decidi ir para São Paulo onde eu tinha alguns parentes.
Não foi nada fácil. Eu achei que teria apoio, mas, assim que eu cheguei, já ficou claro que ninguém me queria por perto. Esses familiares sabiam que eu era problemático e que poderia me envolver com coisa errada, então todo mundo se afastou.
Foi o momento da minha vida em que eu mais me senti sozinho. Era uma cidade enorme e eu estava completamente perdido. Sem amigos, sem família, sem apoio de ninguém.
Apesar de toda essa dificuldade, a minha ida para São Paulo tinha um objetivo: eu tinha que dar um rumo para a minha vida — e eu ia conseguir!
Passei várias noites dormindo no chão, com fome, com frio, mas, com o tempo, eu fui me tornando cada vez mais forte. Consegui emprego em um restaurante, conheci pessoas. Fiz amizades a Gabriela entrou na minha vida.
Ela também era garçonete no restaurante e, todas as vezes que eu ficava muito para baixo, ela tinha o poder de me ajudar. A Gabi estava sempre disposta a conversar e a me aconselhar.
Eu não tinha nada para oferecer, mas ela se preocupava de verdade comigo. A gente se aproximou, começou a namorar e, logo no começo do nosso relacionamento, ela engravidou.
Foi um susto daqueles. Quando eu descobri que ia ser pai, eu fiquei apavorado. Infelizmente, eu ainda tinha os meus vícios, os meus problemas.
Como eu ia ser pai desse jeito? Como eu ia dar estabilidade para um filho se, apesar das minhas tentativas, eu ainda tinha mais “baixos” do que “altos” na minha vida?
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