Vaca do futuro: raça girolando pode reduzir emissão de metano entérico

Melhoramento genético e conforto térmico tornam Girolando mais sustentável

Da Redação

Vaca do futuro: raça girolando pode reduzir emissão de metano entérico
Estudos apontam que melhoramento genético torna o Girolando mais sustentável
Embrapa

Um estudo realizado pela Embrapa Gado de Leite em parceria com a Associação Brasileira de Criadores de Girolando mostrou como serão as vacas do futuro: além de produzir mais leite, elas também vão emitir menos quantidades de metano entérico. A pesquisa mostrou que investimentos em melhoramento genético da raça Girolando e cuidados de bem-estar animal como o conforto térmico dos animais faz com que as vacas dessa raça sejam mais produtivas e mais ‘sustentáveis’ que as da raça holandesa, por exemplo.

Durante dez anos, os pesquisadores analisaram 69 mil animais, 21 mil animais genotipados e avaliaram 650 mil controles leiteiros e concluíram que, entre os anos de 2000 e 2020, os bovinos Girolando emitiram 39% menos metano por quilo de leite produzido. A produção de leite, no entanto, aumentou 60% no período.

Os dados, aliados ao conforto térmico apresentado por aqueles animais e ao seu histórico de melhoramento genético, apontam a raça como promissora para o enfrentamento das mudanças climáticas e a redução de gases de efeito estufa.

Quem é o Girolando?

O gado Girolando tem uma enorme tolerância para o calor e, mesmo sob altas temperaturas, mantém a produtividade alta. A raça é resultado do cruzamento de Gir Leiteiro com a raça Holandesa. O primeiro, de origem indiana (Bos indicus), foi selecionado para suportar o clima tropical e, com melhoramento genético, aumento suas características de produção, reprodução e adaptabilidade. Já a Holandesa, de origem europeia (Bos taurus), foi selecionada com o objetivo de produzir leite. 

O conforto térmico do Girolando chama a atenção de produtores das regiões tropicais, que têm de lidar com extremos de calor e de umidade em períodos do ano devido às mudanças climáticas. “Podemos observar a superioridade dos animais Girolando para tolerância ao estresse térmico, uma vez que a diferença pode chegar a 10°C quando comparamos os limites extremos de tolerância ao calor”, diz Renata Negri, doutora em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Segundo o pesquisador Marcos Vinícius Gualberto Barbosa da Silva, da Embrapa Gado de Leite, o conforto térmico é significativo nos sistemas de produção a pasto em clima tropical, como é o caso do Brasil. “As vacas Girolando, comparadas às Holandesas, tendem a ter melhores desempenhos produtivo e reprodutivo, apesar do aumento da temperatura e da umidade. Dessa forma, a raça contribui para que a oferta de matéria-prima para os laticínios seja mais estável, independentemente da estação do ano e das condições climáticas”, observa .

Quando as vacas estão em estresse térmico, podem deixar de produzir em média 1 mil kg de leite. Em casos de estresse térmico severo, as perdas, ainda segundo Silva, superaram os 2 mil kg de leite por lactação. “Esses valores são muito expressivos, pois uma vaca pode deixar de produzir até 34% do seu potencial em uma única lactação, o que faz da PTA da tolerância ao estresse provocado pelo calor uma opção importante para o produtor.”

Pegada de carbono na pecuária

As mudanças climáticas exigem a transição do atual modelo de produção para sistemas sustentáveis eficientes, com menor impacto ambiental. “O agronegócio é considerado o vilão na emissão de gases de efeito estufa, um problema para o Brasil”, diz Silva.  Para atender aos requisitos propostos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – 2021), a COP-26, quanto à redução das emissões de gases de efeito estufa, será necessária uma resposta rápida do setor agropecuário.

Para Renata Negri, o processo de melhoramento que a raça Girolando tem passado nas últimas décadas será fundamental para essa resposta. “A pecuária pode contribuir para reduzir as emissões de carbono e promover sistemas sustentáveis em curto, médio e longo prazos, com o uso de animais mais resilientes, eficientes e adaptados às mudanças climáticas”, diz a zootecnista.

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