Os produtores rurais do Rio Grande do Sul retomaram a colheita das lavouras após o nível dos rios locais baixarem e permiterem acesso às propriedades rurais. O cenário é de destruição, tanto nas propriedades destinadas à agricultura como à pecuária. Há surtos de pragas, fungos, plantas destruídas e animais sofrendo com doenças e ataques de ratos e carrapatos. A Emater/RS acompanha a retomada dos trabalhos e divulgou um boletim relatando as condições encontradas pelos produtores rurais.
A colheita da soja foi retomada, mas o excesso de umidade no solo está dificultando o trabalho, mesmo em regiões que não sofreram tanto com as cheias dos rios. De acordo com a Emater/RS-Ascar, a área colhida com soja essa semana alcançou 91%.
O que se vê em grande parte das lavouras que ainda precisavam ser colhidas são perdas consideráveis por grãos germinados, mofados e pela debulha natural. Essas condições elevam ainda mais os custos para a colheita dessa soja. As máquinas têm dificuldade de locomoção nas lavouras.
A umidade dos grãos nas unidades de secagem, de acordo com os técnicos, está em torno de 30%. Em uma situação normal, esse índice gira em torno de 14%. Cooperativas que têm unidades de recebimento nas regiões Central e Campanha têm transportado os grãos para realizar a secagem nas sedes localizadas no Planalto Médio, em decorrência da alta demanda de tempo e lenha para a combustão nos locais de colheita.
Nas lavouras de milho, a “colheita pós-chuvas” avançou 4% e pelo menos 92% da área cultivada com o cereal. De acordo com a Emater, essas lavouras apresentam senescência, que é um processo degenerativo das plantas, presença de fungos com alto risco de desenvolvimento de micotoxinas e germinação das espigas.
As lavouras de milho destinadas à silagem (para alimentação animal) também voltaram a ser colhidas, principalmente nas regiões ao sul do estado, mas as folhas estão prejudicadas, mas a colheita avançou para 98%. Nas regiões dos Vales e Central, parte dos silos foi perdida por alagamentos, e há grande dificuldade para fornecer alimentação aos rebanhos, especialmente leiteiro.
Lavouras de arroz abandonadas
A colheita do arroz que ainda estava nos campos durante as chuvas também foi retomada e 95% das áreas foram colhidas. No entanto, as lavouras que ficaram submersas não têm condições para colheita e estão sendo abandonadas. Em alguns municípios, os produtores estão concluindo a colheita e aproveitando o tempo mais seco para adiantar o preparo dos talhões para a próxima safra.
A área cultivada com arroz no Estado está estimada em 900.203 hectares, conforme o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A produtividade inicialmente estimada em 8.325 kg/ha, deverá sofrer redução após o levantamento das perdas que está sendo realizado.
Surtos de carrapato e ratos
Em algumas regiões do estado, os pastos nativos ainda estão completamente alagados. O rebanho de corte gaúcho sofreu perdas significativas em função das enchentes com grande número de animais mortos por afogamento. Agora, com as pastagens ainda alagadas, os animais têm escassez de alimentos e muitos pecuaristas estão tentando a transferência dos animais para outras regiões. Em algumas regiões, os animais estão sendo liberados para as lavouras prejudicadas, para não ficarem sem alimentos.
De acordo com a Emater, há um grande surto de carrapatos nos rebanhos e a chegada do frio intenso na região traz outras preocupações aos pecuaristas. Documentos de venda e transito de animais não estão sendo emitidos no estado.
Nas regiões menos afetadas pelas enchentes, os rebanhos destinados à produção de leite estão em melhores condições sanitárias, mas onde os eventos foram mais extremos, é crescente o registro de perdas de animais e queda na produção. Há relatos de invasão de ratos nos galpões.