Pão e trigo caminham juntos, assim como o trigo e o dólar. A variação de preço do cereal é totalmente dependente da moeda estadunidense, afinal, as negociações são feitas dessa forma. O dólar, que estava a R$4,95 na segunda quinzena de maio, agora, no final de junho, operou em R$4,79. Com isso, as negociações ficaram mais baratas: o trigo, que custava R$1422/ton em maio, fechou a R$1376/ton em junho, valor 3,34% mais barato que o último mês.
Os preços começaram a cair também devido ao acordo entre Rússia e Ucrânia, que permitiu a exportação de grãos por meio dos portos ucranianos pelo Mar Negro. Os países são dois dos maiores exportadores do cereal e, juntos, correspondem a praticamente um terço das exportações globais de trigo. Por conta da guerra na Ucrânia em 2022, os preços mundiais do cereal dispararam e obrigaram as duas nações a estabelecerem um acordo contra a insegurança alimentar para baratear os alimentos.
Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza, empresa especializada em negócios internacionais, destaca que, em maio, o país importou quase metade da quantidade do produto em comparação ao ano passado: “Em maio de 2022, o Brasil importou mais de 500 mil toneladas de trigo. Já neste ano, foram 280 mil toneladas e as exportações caíram de 100 mil para 70 mil”, diz. De acordo com o executivo, o país está reduzindo a dependência do trigo, mas ainda precisa exportar mais para alcançar o superávit.
Para o consumidor final, os preços também registraram queda. O maior exemplo é o pão francês, com uma redução de 0,72% no preço durante o mês de junho, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O alimento, que estava a R$22,90/kg no mês de março, hoje pode ser comprado por R$22,72/kg. O Instituto também constatou que essa baixa tem a ver com a diminuição da alimentação em domicílio, que recuou em 0,81% em junho.
“As chuvas constantes na região Sul contribuíram para uma boa semeadura do trigo, diferente do feijão, por exemplo, que foi prejudicado nessas condições de clima”, afirma Pizzamiglio. “Os alimentos possuem diferentes tipos de produção, comercialização e semeadura, isso interfere em seus valores no mercado interno e externo”, completa.
O trigo continua com forte pressão de mercado. Mundialmente, a oferta ultrapassa a demanda e os preços russos são difíceis de competir, já que o país restringe o corredor de escoamento e monopoliza a exportação. Devido à baixa demanda e aos preços competitivos da Rússia, a média de valor do cereal foi cotada a US$ 352,02/ton nos Estados Unidos na primeira semana de junho, fato que representou uma desvalorização de 2,57% para a semana seguinte. Esses valores impactam quaisquer países que façam transações dolarizadas.