O agronegócio brasileiro tem sido tradicionalmente liderado por homens, mas, nas últimas décadas, a representatividade feminina vem ganhando mais espaço. E os resultados dessa mudança reflete nas pesquisas: de acordo com o estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), realizado em conjunto com a Embrapa e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente as mulheres administram mais de 30 milhões de hectares – equivalente a 8,4% das áreas rurais do país. Segundo levantamento, são cerca de 1 milhão de mulheres comandando propriedades do agronegócio no Brasil.
Além de liderar propriedades, as mulheres também ocupam posições de destaque em empresas, indústrias e cooperativas. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), elas representam cerca de 30% dos profissionais do setor. Já um levantamento realizado pelo Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea/USP) indicou que, em 2022, seis milhões de mulheres atuaram no setor: 800 mil na área de insumos, 1,5 milhão na agroindústria, 2,6 milhões em agrosserviços e 1,7 milhão em serviços primários, que incluem os trabalhos realizados nas propriedades rurais, “dentro da porteira”.
O protagonismo se reflete, ainda, em eventos. Um dos mais expressivos é o Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), o maior evento da América Latina de mulheres do agro. No ano passado, o congresso reuniu 2,5 mil congressistas. Um estudo de perfil, realizado após o evento, mostrou que os três Estados com maior presença foram São Paulo, Mato Grosso e Paraná. Os setores de atuação mais presentes foram soja, carne, milho, leite, hortifruti, cana, café, algodão e arroz. Dentre os principais cargos estavam proprietárias, gerentes e diretoras.
Para a diretora executiva da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e membro do conselho de conteúdo do 8º CNMA, Gislaine Balbinot, dentro dos centros urbanos “as mulheres têm atuado no agro de forma direta ou indireta, como gestoras, consultoras e diretoras. Dentro da porteira, fazem a gestão das propriedades, lideram os negócios, além de muitas que se especializam e prestam serviços dentro das fazendas, como agrônomas, veterinárias, microbiologistas, entre outros. Então, temos as mulheres presentes em todas as cadeias produtivas do setor”.
Segundo o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), em 2020, 53% dos alunos que fizeram os cursos oferecidos pela instituição eram mulheres e em pesquisas e no meio acadêmico, as mulheres também estão presentes. A chefe geral de Meio Ambiente da Embrapa e membro do conselho de conteúdo do 8º CNMA, Ana Paula Packer, conta que “hoje, é muito perceptível o aumento da presença feminina em faculdades de agronomia e, consequentemente, a maior inserção nos diferentes ‘braços’ de pesquisas”, diz. Mas, para que esse cenário continue crescendo, políticas públicas mais inclusivas e uma comunicação mais integrada também são importantes. “Essa inserção de liderança feminina em grandes empresas públicas, por exemplo, é um movimento recente. Eu sou a primeira mulher a ocupar meu atual cargo. Esses últimos 50 anos foram disrruptivos, estamos favorecidas neste ponto de mostrarmos nosso potencial, nossas pesquisas, e colocar isso pra fora, comunicar nossos esforços, o que estamos fazendo”, explica.
O Brasil representado por elas – O Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio acontece em outubro. Para levar ao evento a gestão feminina no agro, as embaixadoras, nomeadas pelo segundo ano consecutivo, representarão as cinco regiões do País, trazendo a perspectiva de cada uma e compartilhando seus conhecimentos sobre o setor. Edineia Becker, embaixadora da região Sul, explica que o CNMA cria conexões valiosas entre as participantes e as empresas, o que gera uma rede ainda mais unificada e sólida. “Independentemente do segmento em que trabalham, todas as mulheres devem sempre buscar novas conexões com outras mulheres, para expandir nosso protagonismo no agro”, diz.
Sônia Bonato, embaixadora representante do Centro-Oeste, o Congresso tem uma grande relevância para as produtoras rurais. “É o reflexo da nossa contribuição e o reconhecimento do nosso trabalho. Nós estamos presentes em toda a cadeia do setor, porque sabemos que alimentar pessoas é responsabilidade de manter vidas”, relata. Já a representante da região Norte, Renata Salatini, compartilha que ser nomeada como embaixadora foi um misto de emoções e desafios. “É uma oportunidade excelente para alavancar o profissional de cada participante e permite que diversas regiões do Brasil se encontrem por meio de um networking incrível. Cada mulher retorna para sua realidade renovada e cheia de ideias para colocar em prática.”
“Acredito que uma mulher forte do agro faz progresso onde quer que esteja, pois esse setor que nos integra também alavanca todo o seu entorno, promovendo educação, desenvolvimento e gerando emprego, com equilíbrio social e ambiental”, compartilha Ani Sanders, embaixadora que representa o Nordeste. “Trocamos o salto por uma botina, em busca do desenvolvimento de uma produção agropecuária sustentável, com segurança de rebanhos, e uma agricultura de precisão, aliada ao campo digital. Somos do agro e temos um mega orgulho disso”, ressalta Chris Morais, embaixadora representante do Sudeste.