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Entenda por que as ondas de calor podem deixar alimentos mais caros no Brasil

As altas temperaturas podem afetar a produção de hortaliças, pescados e de carne e leite

Da Redação

Entenda por que as ondas de calor podem deixar alimentos mais caros no Brasil
Wenderson Araujo/Trilux

Desde o início da primavera, no dia 23 de setembro, uma forte onda de calor tomou conta de todo o País. A estação, com predominância de um clima mais ameno, está sob influência do fenômeno El Niño, que deixou o período com características de verão: muito calor e fortes chuvas. Apesar da frente fria que está deixando o clima mais ameno nesta semana, a previsão é que ao longo do mês de outubro, novas ondas de calor possam atingir o país. 

As altas temperaturas influenciam, não somente a rotina dos brasileiros, mas também, o seu bolso na hora de comprar alimentos. Isso porque o calor pode afetar a produção de hortaliças, pescados e a reprodução de animais, elevando o preço de carnes, leite e peixes.

Em setembro, de acordo com a Climatempo, por quase duas semanas, as temperaturas atingiram marcas extremas, muito acima do normal. “Calor e umidade são ingredientes para chuva fortes e temporais. Só é difícil prever quando e em que local eles acontecerão”, alerta Willians Bini, meteorologista e head de comunicação da Climatempo.

Na agricultura, esta onda de calor, fora de época, afeta a produção agrícola de variadas cadeias. No setor de hortifrúti, por exemplo, grande parte dos alimentos produzidos são extremamente sensíveis a altas temperaturas. Isso afeta desde a lavoura no campo até o alimento que chega à mesa do consumidor.

"Mogi das Cruzes, no Cinturão Verde da Região Metropolitana de São Paulo, se destaca pela produção de frutas, flores e hortaliças, principalmente as folhosas, neste sentido, o calor intenso dos últimos dias impacta de maneira significativa a qualidade das plantas, dependendo da cultura e em todas as fases da planta, no plantio, na condução, colheita e transporte”, ressalta David Rodrigues, Extensionista Rural da CATI Regional Mogi das Cruzes. 

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA), através da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), está trabalhando na região novas técnicas de produção, que procuram mitigar estes efeitos climáticos, como a utilização de bioinsumos e a introdução de Sistema de Plantio Direto em Hortaliças (SPDH). “O SPDH consiste na cobertura do solo, criando uma proteção para a condução da planta e conservando a umidade," explica David Rodrigues.

Carne e leite mais caros por causa do calor

Os animais de produção também sofrem com as temperaturas excessivas. O estresse térmico é um dos fatores limitantes para produção de carne de alta qualidade. A produção de carne bovina precisa ser cada vez mais eficiente e fundamentada no desenvolvimento sustentável e no bem-estar animal. Respiração ofegante, aumento dos batimentos cardíacos e da necessidade de hidratação, além de sudorese. Outros sintomas, também, podem ser percebidos, como hipersalivação, vômitos e diarreia.

De acordo com a pesquisadora do Instituto de Zootecnia (IZ - APTA), da SAA, Claudia Cristina Paro de Paz, os bovinos são animais homeotérmicos que modulam a temperatura corporal interna, ajustando a quantidade de calor produzida pelo metabolismo com o fluxo de calor do animal para o ambiente. As ondas de calor podem também influenciar a produção de leite.

O calor intenso pode afetar também a piscicultura. Isso se deve, porque, a temperatura equilibrada da água é primordial para o cultivo de diversas espécies. Por isso, nos meses mais quentes, os produtores precisam de um planejamento estratégico para manter a produtividade e minimizar as perdas de produção. “O que acontece é a diminuição da solubilidade de oxigênio na água, por conta da elevação da temperatura. Com isso, o peixe não se alimenta de maneira habitual, porque, não terá oxigênio suficiente para fazer a digestão da ração que ele ingeriu,” explica Andreas Karl Plosch, proprietário do Sítio Forelle Trutas, em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo.

Segundo o proprietário, uma alternativa para este momento é reduzir a oferta de ração ou até mesmo, por um tempo, não alimentar o peixe. Algumas espécies, como a truta, se reproduzem em águas mais frias, em torno de 10ºC e 20ºC. “Neste período, setembro e outubro, a água chega a bater pico de 24 graus e isso é bastante para o manejo da truta”, ressalta Andreas Karl Plosch. 

Para Leonardo Tachibana, diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Aquicultura do Instituto de Pesca (IP - APTA), o aumento do calor, também, influencia na reprodução de algumas espécies. “Além disso, peixes criados em tanques-rede não conseguem se deslocar para procurar regiões com conforto térmico, como as áreas mais profundas, então sofrem com a alta temperatura da água”, destaca Leonardo Tachibana. 

Já a tilápia resiste a temperaturas acima de 35º C e o clima mais quente pode ser benéfico para procriação. "Então algumas localidades a tilápias podem antecipar a época de reprodução, após o período de inverno", ressaltou Tachibana.

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