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Enchentes no Rio Grande do Sul devastaram pastos e lavouras de 2º safra

Em todas as regiões do estado, as perdas podem ser totais; gado sofre com pastagens comprometidas

Da Redação

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Seapi/RS

As condições climáticas que atingiram o Rio Grande do Sul entre os dias 29 de abril e 5 de maio, com chuvas intensas que causaram o transbordamento dos principais rios da região em 85% das cidades do estado. Todos os setores da agropecuária foram afetados pelas inundações, mas os estragos mais impactantes ocorreram nas lavouras de 2ª safra, como as de soja, arroz e feijão, com a interrupção do final da colheita. Os pastos também foram prejudicados com o encharcamento do solo. 

De acordo com o informativo conjuntural da Emater/RS, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR), as lavouras foram severamente afetadas e a qualidade dos grãos ficou comprometida devido ao prolongamento do encharcamento. 

A produção de itens hortigranjeiros foi drasticamente atingida pelas águas e ainda há uma grande quantidade de produtos submersos .

As chuvas e o transbordamento provocaram danos na infraestrutura, com a destruição de estradas, pontilhões e pontes, prejudicando a logística de escoamento da produção e acesso às propriedades rurais. Houve casos de destruição de armazéns e silos, estufas, estábulos, salas de ordenhas e currais.

Prejuízos nas culturas de verão

A safra de soja do Rio Grande do Sul já estava no estágio final quando a região foi atingida pela inundação. Segundo o levantamento da Emater, as águas impediram a colheita em 24% das lavouras plantadas e a perda na produção sobre este percentual deve ser total. Alguns armazéns e silos também foram danificados, o que pode afetar a qualidade dos grãos que estavam estocados.

A colheita do milho no estado já havia avançado em torno de 86% da área plantada e nessa área, as perdas devem ser totais, principalmente na região de Lajeado e Caxias do Sul. Na região de Santa Maria, 72% da área cultivada havia sido colhida.

A 1ª safra de feijão já havia sido concluída, mas 2ª safra, estimada em 19,9 mil hectares, deve ser prejudicada por causa das águas e a produtividade deve ser inferior a 1,5 kgs./ha.  Na região de Frederico Westphalen, o feijão 2ª safra, que apresentava bom desenvolvimento, foi severamente afetado pelas águas, e as perdas podem ultrapassar 40%. 

Lavouras de arroz submersas

A colheita das lavouras de arroz foi severamente comprometida devido à chuva e agravada pela característica do cultivo, localizado em áreas de várzeas, onde o acesso tornou-se mais difícil e onde estão concentrados os principais pontos de alagamentos. Outros problemas registrados foram com a secagem dos grãos o que resulta na perda de qualidade e rendimento.

A área cultivada com arroz no Estado está estimada em 900 mil hectares, conforme o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A produtividade inicialmente estimada em 8.325 kg/ha poderá ser reduzida após a quantificação das perdas.

Na região de Soledade, grande parte das lavouras de arroz foi inundada pelas cheias e, após a normalização da situação, será realizada uma avaliação dos níveis de perdas e da qualidade do grão. As avaliações preliminares indicam perdas totais. 

Na região do Baixo Vale do Rio Pardo, há registro de silos com arroz armazenado que foram parcialmente alagados. Devido à dificuldade de acesso ao interior, ainda não se tem uma dimensão precisa dos danos, incluindo a quantidade de silos afetados. Aproximadamente 60% das lavouras haviam sido colhidas antes do evento climático.

Pastagens e criações

As chuvas e enchentes causaram danos significativos às pastagens em praticamente todo o Estado. Desde a dificuldade na semeadura e no desenvolvimento até a perda de culturas já implantadas, as condições climáticas adversas comprometeram a disponibilidade e a qualidade das pastagens para o gado. Alagamentos, erosões e danos no solo são alguns dos impactos observados.

Na região de Caxias do Sul ocorreu a destruição de estradas, deslizamentos de terra e perda de solo e de pastagens. As atividades de implantação de pastagem foram interrompidas e os pastos recentemente implantados foram danificadas pelas chuvas, possivelmente exigindo replantio. 

Na região de Santa Maria, as pastagens cultivadas e o campo nativo foram severamente prejudicados. Áreas em várzeas, potreiros e terras baixas ficaram submersos, comprometendo significativamente a disponibilidade e a qualidade das pastagens para o gado. No entorno de Santa Rosa, em locais baixos ou próximos a cursos d'água, houve inundação e pisoteio animal. As pastagens de inverno recém-implantadas, como trigo e aveia, sofreram perdas por erosão.

O encharcamento das pastagens tem deixado o pastoreio inviável e compromete a oferta de alimento para o gado. As enchentes têm prejudicado o acesso às propriedades, impedindo o transporte do leite e afetando a coleta e o escoamento da produção. A falta de energia foi um problema e exigiu o uso de geradores.

Na região de Erechim, o excesso de chuva tornou ainda mais desafiador o manejo sanitário dos rebanhos leiteiros, principalmente relacionado ao controle de mastite, lesões, laminite e problemas respiratórios. Em Frederico Westphalen, as precipitações recentes prejudicaram o pastejo dos animais e o recolhimento do leite por parte de alguns produtores, mas o retorno do sol e a melhoria das estradas normalizaram a situação. 

Nas propriedades localizadas no entorno de Porto Alegre, as condições gerais do rebanho são críticas, e houve perdas significativas devido a afogamentos, especialmente nas regiões do Vale dos Sinos, Vale do Caí e Centro-Sul. A coleta de leite está sendo comprometida em várias localidades. Estima-se que mais de 50% da produção não está sendo escoada.

Na região de Santa Maria, as pastagens foram submersas pela enchente, prejudicando a alimentação dos rebanhos e houve perda de animais. Em Santa Rosa, o excesso de barro tem provocado lesões nos cascos das vacas e reduzido o pastejo, levando a um aumento no uso de silagem na dieta e à queda na produtividade. 

O alagamento de estradas e a destruição de pontes que ocorreu no dia 2 de maio impediu a coleta de leite em diversas propriedades, exigindo rotas alternativas. Também foram afetadas áreas de armazenamento de milho silagem, comprometendo a disponibilidade de alimentos para os animais. Os trabalhos de corte de silagem de milho foram interrompidos.

Outras culturas

A ovinocultura, segmento que é forte no estado, também será prejudicada pelas águas. Os maiores problemas relatados entre os criadores são atrasos no manejo pré-parto, mortalidade de cordeiros e problemas nos cascos dos animais. Os rebanhos não conseguem acessar as pastagens, resultando em perdas significativas de animais. 

Na região de Bagé, no município de Caçapava do Sul, ocorreu morte de cordeiros, e alguns foram arrastados pela enxurrada. 

A apicultura sofreu perdas significativas de colmeias e enxames, e os apiários estão inundados. Essas condições têm limitado a atividade das abelhas e reduzido a produção de mel, sendo mais preocupante em áreas próximas a corpos d'água, onde as colmeias foram mais afetadas. 

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