Uma empresa que produz saladas prontas para consumo anunciou que está utilizando piscinas para cultivar as variedades folhosas. A Verdureira, em São Roque (SP), produz cerca de 39 toneladas de hortaliças por mês em 16 piscinas utilizando o método floating. Segundo a empresa, o sistema consome 1% da água utilizada no cultivo convencional e aumenta a produtividade em 12,5 vezes.
É a primeira vez que uma empresa utiliza o sistema floating (DWC, Deep Water Culture) para produzir alimentos em larga escala. Os sócios da empresa foram à Holanda, no ano passado, aprender a utilizar a técnica e na volta, criaram um sistema em São Roque. "Sabíamos que era um desafio, mas estávamos dispostos a aprender mais, testar e arriscar, pois acreditávamos que seria um divisor de água para o negócio e também para o agro brasileiro. Agora, produzimos mais, com menos esforços e recursos, além de oferecer um produto com mais qualidade para o consumidor”, explica Ari Rocha, sócio e CEO da Verdureira.
A técnica de hidroponia DWC (Deep Water Culture), mais conhecida como floating, consiste no cultivo em piscinas, onde as hortaliças são plantadas em placas que ficam sobre a água. Embora pareça algo simples, os desafios vão desde a criação das placas ideais, onde as hortaliças ficam bem posicionadas, até a oxigenação da solução nutritiva. Se na hidroponia NFT (Nutrient Film Technique), as verduras ficam em canaletas e recebem os nutrientes via lâminas d’água, no DWC as raízes ficam inteiramente imersas na piscina.
Os testes foram realizados em uma primeira piscina, de 54 mil litros, construída em 2021 exatamente para esse fim. Diante dos desafios, os produtores viram a necessidade de aprofundar mais no processo e, após benchmarks especializados, introduziram novas técnicas e práticas, além de conceber as máquinas e tecnologias empregadas para o cultivo.
Neste ano, o sistema foi aprimorado. Cada detalhe foi levado em consideração, como as placas flutuantes com espessura, materiais e bolsões foram moldadas e até mesmo, a cor das lonas utilizadas no procedimento é capaz de impactar o resultado e percebeu-se a importância de manter o nível de oxigenação na solução nutritiva. Para isso foi desenvolvida de forma inédita uma estação de tratamento de água que mantém a solução nutritiva sempre balanceada.
A peça que faltava para o sucesso da empreitada foi descobrir como injetar oxigênio na solução utilizando nanobolhas no processo. Tudo mudou quando a Verdureira conheceu Oliver Povareskim, da Nanobiologic, que embora não utilizasse nanobolhas para esse fim, estava disposto a desenvolver e testar. São essas nanobolhas de oxigênio que favorecem a saúde da solução nutritiva para o floating. Dessa forma, além de promover o ambiente propício para o crescimento das hortaliças, não é necessário desperdiçar água na troca da solução nutritiva.
Se na hidroponia NFT há a economia de 90% de água em comparação ao cultivo tradicional no solo, no floating a economia é de 99%, o que torna o método ainda mais sustentável.
“Além de utilizar menos água ao longo do processo, garantimos maior produtividade. No caso da hidroponia NFT, produzimos cinco vezes mais e agora a produção é 12,5 vezes maior com o floating. As hortaliças são maiores, mais resistentes e nutritivas”, ressalta Thiago Rodrigues Silveira, engenheiro-agrônomo responsável pela produção na Verdureira. Atualmente são cultivados os mais diversos tipos de alfaces, como americana, lisa, crespa, roxa, entre outros.
A primeira piscina de floating rendeu uma tonelada de hortaliças no primeiro mês, em teste realizado em junho. Com expertise conquistada e a iniciativa bem-sucedida, foram construídas mais três piscinas, que resultam em mais seis toneladas mensais. Estão em fase de construção mais 12 piscinas, capazes de produzir 32 toneladas, que estarão prontas e em utilização até o fim de 2023.
“Exatamente quando os consumidores e supermercados mais demandam por saladas, mais frágil era o cultivo. Com as inovações tecnológicas, não dependemos do clima e fortalecemos a cadeia, com mais hortaliças disponíveis e mais qualidade no produto final, garantindo o abastecimento dos estabelecimentos parceiros”, reforça Lucas Regis, diretor comercial e também sócio da Verdureira.
As piscinas ficam dentro de estufas, com ambiente controlado, onde é possível variar a ventilação e a temperatura conforme a necessidade. Isso permite que a empresa produza em qualquer clima, em todas as estações do ano, além de diminuir a exposição a pragas e doenças ao longo do processo.
Atuação em localidades estratégicas
A Verdureira atua em fazendas periurbanas, entre a zona rural e a cidade, possibilitando que a marca coloque sua produção no mercado em até 24 horas após a colheita. Após a colheita, a seleção das hortaliças é artesanal. As folhas são higienizadas e embaladas com tecnologia de atmosfera modificada capaz de preservar os nutrientes e frescor dos alimentos até o momento do consumo, sem a necessidade de conservantes. Os produtos tê QR Code e o consumidor pode entender todo o processo de produção das hortaliças.