A Embrapa anunciou nesta segunda-feira (5) a criação de uma plataforma que vai reunir dados, funcionalidades e métricas sobre o balanço de carbono adaptados aos sistemas agrícolas brasileiros. A iniciativa teve um aporte de R$ 20,3 milhões a partir de uma emenda parlamentar. O desafio dos cientistas é definir, pela primeira vez, parâmetros padronizados de mensuração de emissão e absorção de carbono adaptados às condições de clima tropical.
Esses indicadores têm que ser compatíveis com os princípios de Transparência, Precisão, Completude, Comparabilidade, Consistência (TACCC) adotados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e pelas Nações Unidas para o desenvolvimento de Inventários Nacionais de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Inventário Nacional).
Segundo o presidente do Portfólio Mudanças Climáticas, o pesquisador Giampaolo Pellegrino, da Embrapa Agricultura Digital, o desenvolvimento de métricas de balanço de carbono e adaptação da agropecuária brasileira atende a uma forte demanda internacional por rastreabilidade nas emissões, ao mesmo tempo para a sustentabilidade da agricultura brasileira, que precisa oferecer respostas embasadas em métricas padronizadas e reconhecidas globalmente. “O projeto prevê o investimento em qualificação de infraestrutura e a formação de uma rede de cooperação em PD&I, que nos possibilite elaborar métodos de medição adequados às condições e ao modelo de produção nacional, a exemplo do que já acontece nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos”, diz Pellegrino.
A expectativa é que os resultados alcançados contribuam para fortalecer a imagem do Brasil, aumentando a competitividade do setor agrícola e seu impacto comercial nos mercados nacional e internacional. De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, a agropecuária, mesmo que sob bases sustentáveis, é responsável por cerca de 25% das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.
“É premente que o País invista na construção de um modelo tropical robusto e preciso para mensurar a emissão de GEEs”, explica o pesquisador da Assessoria de Relações Internacionais (Arin) Gustavo Mozzer, que também faz parte do portfólio Mudança Climática. Mozzer diz que essa necessidade se tornou ainda mais urgente após o Acordo de Paris. No documento, resultante da 21ª Conferência das Partes (COP21), 195 países estabeleceram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês), e o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 48.4% até 2025, e em 53% até 2030.
O Acordo de Paris exige ainda que o País passe a reportar a forma de implementação da sua estratégia doméstica no Inventário Nacional, de responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “Os dados que serão produzidos pelo esforço de tropicalização de métricas de carbono serão estratégicos para a evolução dos métodos utilizados atualmente para estimativa das emissões, na direção da implantação de métodos tropicais”, complementa Mozzer.
Para a presidente Silvia Massruhá, que participou ativamente da aprovação da emenda, o projeto é um passo determinante para garantir o cumprimento das metas assumidas pelo Brasil no Acordo de Paris. Além da NDC, contribuirá também para o relato e verificação do Relatório Bienal de Transparência (BTR) e para o Inventário Nacional. “Trata-se de um processo com necessidade contínua de aperfeiçoamento a partir da integração dos muitos esforços e conhecimentos que a Embrapa possui no tema e o recurso é um passo fundamental nessa agenda, que é absolutamente prioritária em nossa gestão na Empresa”, observa Massruhá, lembrando que a Diretoria-Executiva da Embrapa continuará a buscar recursos para garantir a continuidade das ações de PD&I.