Conheça o Boi Pantaneiro, raça que se adaptou ao Pantanal, mas pode desaparecer

Animais vieram da Europa, mas se adaptaram às condições do Pantanal; bovinos do rebanho da Embrapa ganham registro genealógico

Da Redação

  • facebook
  • twitter
  • whatsapp
Boi Pantaneiro adaptou condições físicas aos desafios do Pantanal
Raquel Brunelli/Embrapa

Uma raça bovina rústica e resiliente. Os bovinos que vieram da Europa e se adaptaram muito bem ao Pantanal já constituem uma raça. Conheça o Boi Pantaneiro, animal que desenvolveu até cascos mais resistentes para pastejar longas distâncias, mansidão e capacidade leiteira, mas que está em alto risco de extinção. 

Trazido da Europa na época da colonização por portugueses e espanhóis, o Boi Pantaneiro passou por um processo de seleção natural, resultando em uma raça extremamente adaptada às condições do bioma Pantanal, capaz de suportar fatores pouco favoráveis em termos de clima e nutrição – mantendo altas taxas de reprodução, apesar dos extremos do bioma.

Trata-se de uma raça rústica e resiliente, que apresenta cascos resistentes a longos períodos de pastejo em áreas alagadas, mansidão, boa habilidade materna e capacidade leiteira, entre outras vantagens e diferenciais. Atualmente, a raça está em alto risco de extinção, possui carne e leite com sabor e qualidade diferenciados, com um potencial comercial para atender a nichos de mercado.

Proteção ao Boi Pantaneiro

Nesta terça-feira (26), a Embrapa Pantanal (MS) anunciou que, em parceria com a Associação Brasileira de Criadores de Bovino Pantaneiro (ABCBP) realizou o registro genealógico de nove touros e 55 matrizes pertencentes ao rebanho do Núcleo de Conservação do Bovino Pantaneiro, do Campo Experimental da Fazenda Nhumirim. Os machos e fêmeas jovens foram avaliados e pré-selecionados para um registro futuro, dependente do seu desenvolvimento e características raciais. Trata-se de um importante passo para o processo de registro da raça junto ao Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa).

Segundo a pesquisadora da Embrapa Rachel Juliano, responsável há 15 anos pelas pesquisas realizadas com o Bovino Pantaneiro, cada animal passou por uma avaliação técnica para atender aos critérios que determinam o padrão racial e foram identificados com uma marca e numeração junto à ABCBP, além de registro fotográfico individual. “Aproveitamos para classificar, individualmente, o escore corporal e frigorífico dos bovinos e detectar animais com características interessantes a serem mantidas nessa população: diversidade de pelagens, habilidade materna, mansidão, produção satisfatória de crias, longevidade, boa conformação para produção de carne e leite”, detalha a pesquisadora.

Raquel destaca que o registro dos animais na ABCBP deve fortalecer o trabalho de conservação e uso do Bovino Pantaneiro que vem sendo realizado desde a década de 1980, quando o primeiro rebanho de conservação foi implantado, na Embrapa Pantanal. O esforço reúne também outras Unidades da Embrapa, criadores, técnicos, universidades e instituições de pesquisa.

“As pesquisas realizadas ao longo dos anos demonstraram que o Bovino Pantaneiro tem como principal diferencial o fato de ser o taurino mais adaptado às duras condições do Pantanal. Esses animais produzem carne macia e suculenta, com bom marmoreio e leite com alto teor de gordura; os touros possuem alta libido e as vacas são muito longevas e prolíferas. Os rebanhos acompanhados pelos pesquisadores e pela ABCBP são criados tradicionalmente em sistemas extensivos, a pasto, sendo uma boa opção em empreendimentos pecuários com perfil de atendimento a nichos mercadológicos”, explica a pesquisadora.

Bezerros de 200 quilos

O criador de Bovino Pantaneiro Yorgos Salles Graça, de Porto Esperidião (MT), tem investido na ideia de ter animais compactos, com aproximadamente 350 kg, com alta eficiência reprodutiva, selecionando animais adaptados às condições do sistema produtivo do Pantanal, visando desmamar bezerros com 50% do peso da vaca, produzindo carne de qualidade. “A experiência tem sido positiva. Atualmente possuo um rebanho base com 200 animais e venho utilizando a ultrassonografia para detectar indivíduos com melhor composição de carcaça. Os acasalamentos serão acompanhados para ter a primeira produção de Bovinos Pantaneiros , na propriedade, em 2024”, explica Salles Graça.

O presidente da ABCBP, Thomas Horton, é um grande incentivador da raça. "Eu tenho touro robustos, bezerros que desmamam com 200 quilos", frisa Horton ao contar que o custo de criação do Bovino Pantaneiro é menor, e que a raça é ótima escolha para uma propriedade de porte médio como a dele. "Considero os animais de fácil manejo, com boa resistência a carrapatos e verminoses. Verifiquei nas pesquisas, que foram feitas com a Embrapa e parceiros, a qualidade da carne e o seu marmoreio”, relata o criador.

Mais notícias

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.