Conheça as quatro famílias que produzem o verdadeiro chá no Brasil

O cultivo da planta Camellia sinensis é realizado em pequenas propriedades rurais de famílias descendentes de japoneses no interior de São Paulo

Viviane Taguchi

Quentinho, acolhedor e saboroso. Os chás são considerados bebidas aconchegantes e exalam tradição. No Brasil, o consumo da bebida está aumentando e este mercado tem se tornado muito atrativo para produtores rurais. No entanto, a produção do verdadeiro chá, produzido a partir da planta família Theaceae, Camellia sinensis, ainda é feita por apenas três famílias e uma única empresa, todos descendentes de japoneses, no interior de São Paulo. 

De acordo com a Associação Brasileira de Chá (AbCha), a área cultivada no Brasil com a planta Camellia sinensis soma cerca de 218 hectares, a produção gira em torno de 1,8 mil toneladas por ano e a principal região produtora é o Vale do Ribeira, onde ficam cidades como Registro, conhecida pela produção de bananas. 

Popularmente, no Brasil, costuma-se chamar de chá todas as bebidas infundidas a partir de plantas como hortelã, menta, cidreira e tantas outras. Porém, na Ásia, o nome chá é relacionado apenas com a Camellia Sinensis, planta da, também conhecida como planta do chá. De forma técnica, as outras plantas originam infusões.

Conheça as famílias produtoras de chás no Brasil

A produção de chás no Brasil é executada por apenas três famílias e uma empresa familiar de origem japonesa e todos estão localizados no interior de São Paulo.

A família Amaya produz chá preto, oolong e chá verde no estilo não ortodoxo, além de blends e o chá verde em pó. Os chás são comercializados a granel em sacos zip pouch e algumas linhas em sachê, distribuídos em lojas espalhadas pelo país. Na propriedade rural da família Amaya, localizada em Registro (SP), são cultivados 87 hectares de Camellia Sinensis e a produção gira em torno de 90 toneladas de chá por ano.

De acordo com o livro A História do Chá no Brasil, de Yuri Hayashi, a família Amaya chegou ao Brasil em 1919, formada por Shutekishi Amaya e Nao Amaya, juntamente com seus filhos Jorge, Hélio e Antonio, o primeiro médico japonês a se formar no Brasil e também apaixonado pela bebida. Foi Antônio de Mello Amaya o grande incentivador da produção de chá pela família, também se dedicando à pesquisa da cultura da planta.

 Em 1936, a família lançou o Chá Ypiranga, comercializado principalmente no Rio de Janeiro. Sua venda era de cerca de 100 toneladas por ano. Após esse primeiro envolvimento dos Amaya com o cultivo do chá, eles migraram a produção para o estilo não ortodoxo e, apesar de a fábrica ter sido modernizada para produzir milhares de toneladas de chá por ano, atualmente, ela produz apenas metade de sua totalidade, devido à demanda.

Também em Registro, está localizado o Sítio Shimada. O primeiro chá produzido por essa família foi um chá preto artesanal em homenagem à senhora Ume, a matriarca. A capacidade total do sítio pode atingir 1 tonelada/ano, mas conforme a procura do mercado, a produção gira em torno da metade do total. Hoje, eles também produzem o chá verde, chá branco, chá preto defumado e o Chá Dourado, que é um chá preto especial feito apenas de brotos. Destaque para a plantação de lichia ao lado do chazal, que confere um terroir diferenciado aos chás. 

 O Sítio tem certificação de orgânico pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com chás comercializados a granel em sacos zip pouch, distribuídos em lojas especializadas e e-commerces. A área do chazal é de seis hectares e a produção, em torno de 500 quilos por ano. 

Conforme conta Yuri Hayashi, autor do livro, a senhora Ume Shimada, hoje com 97 anos, passou a vida trabalhando na colheita da planta do chá, cujas folhas eram levadas para serem processadas em fábricas. Quando o mercado não pôde mais comprar a sua colheita, Ume não quis perder a produção do seu pequeno chazal familiar e resolveu instituir novamente a produção artesanal do chá, no ano de 2014.

Tomio Makiuchi, grande entusiasta de chás no Brasil, foi quem auxiliou Ume a estabelecer uma pequena sala de produção de chá preto, recuperando todo o equipamento inicial da família. Já a filha de Ume, Teresinha Shimada, aprendeu com Tomio a arte de processar o chá colhido na propriedade da família e hoje ela é a responsável por sua produção artesanal, contando com a ajuda de outros familiares nas demais áreas. 

A terceira fazenda produtora de chás no Brasil fica localizada na cidade de Sete Barras, também no interior de São Paulo. No Sítio Yamamaru, são produzidos chá verde feito 100% de forma manual (ortodoxo) e, mais recentemente, passaram a produzir o chá preto, que conquistou a medalha de ouro no Concurso Brasileiro de Chás em 2023. Os produtos são produzidos no sistema agroflorestal, comercializados a granel em sacos zip pouch e vendidos em lojas especializadas. 

O chazal Yamamuru ocupa 20 hectares de agroflorestal e a produção chega a 60 quilos por ano. 

Durante muitos anos, o Sítio Yamamaru ficou arrendado. Com o desejo da família em retornar os cultivos no local, um trabalho de recuperação do terreno se iniciou adotando o sistema de agroflorestal (o mesmo sistema utilizado para produzir cacau), caminhando de mãos dadas com a Mata Atlântica que ali crescera. A parte do chazal abandonada por 25 anos, começou a ser recuperada em 2011 e foi no ano de 2017 que a família voltou a processar chás novamente.

Os irmãos Miriam e Kazutoshi, com o apoio da família, são os principais responsáveis pelo chá que está sendo produzido agora, em conjunto de outras culturas como a do palmito juçara. 

A única empresa que produz chás no Brasil é a Yamamotoyama do Brasil e está localizada na cidade de São Miguel Arcanjo. A companhia é uma empresa japonesa criada em 1690 e que chegou ao Brasil em 1970, atraídos pelo mercado aberto na ocasião. Kuniichiro Yamamoto, presidente da nona geração da marca, tinha o sonho de fornecer chás de qualidade ao mundo e seguindo sua visão, encontrou em São Miguel Arcanjo as condições climáticas perfeitas para produzir chás no estilo tradicional japonês.

A fazenda da companhia é a maior do segmento e mantém um chazal de 104,25 hectares. A produção anual das plantas chega a 1,530 toneladas por ano. Os cultivares japoneses Yabukita e Yutakamidori, assim como o maquinário, foram trazidos do Japão. Eles possuem os chás verdes estilo japonês (sencha, bancha, genmaicha, hojicha). A maior parte desta produção é exportada para o Japão, Estados Unidos e Europa. Parte da produção orgânica leva selo do IBD – Associação de Certificação Instituto Biodinâmico.

De acordo com a AbCha, no Brasil, existem outros locais em que a planta Camellia sinensis é cultivada, de forma experimental, como na Casa de Chá Marrege, em Caeté, Minas Gerais, que conta com aproximadamente 100 plantas e produção própria de chá preto. Outros chazais selvagens estão localizados na Serra da Mantiqueira e no Parque do Itacolomi (MG). 

Tópicos relacionados

Mais notícias

Carregar mais