O fenômeno climático La Niña está previsto para ocorrer nos próximos meses. A expectativa é que a partir de agosto até outubro deste ano, La Niña passe a influenciar o clima no Brasil e como consequência, a agricultura poderá sofrer perdas e os preços de alguns alimentos, altas consideráveis.
O fenômeno climático La Niña age de forma oposta ao El Niño, que estava influenciando o clima desde o ano passado. Foi ele o responsável por intensas ondas de calor e chuva muito forte principalmente no sul e seca no norte. Ou seja, a partir de agosto, a situação se inverte, com possibilidades de seca muito forte na região centro-sul e chuvas no norte.
Durante o fenômeno La Niña, o Oceano Pacífico fica mais frio do que o normal perto da linha do equador, desencadeando chuvas fortes na Ásia e condições mais secas em partes da América do Sul. No El Niño, essas águas estavam mais quentes.
Onde La Niña agirá?
Tradicionalmente, em anos influenciados pelo fenômeno La Niña, lavouras cultivadas nas Américas sofrem mais as consequências. Isso inclui o Brasil, Argentina e Estados Unidos, que são líderes em várias culturas como a soja, milho e trigo.
Nos Estados Unidos, o fenômeno provoca seca e calor nos estados localizados ao sul e chuvas intensas na região noroeste, além de furacões. Nas regiões onde se produz muitos grãos como o Cinturão do Milho, a estiagem severa predomina em anos de La Niña. Já na região norte, onde se planta soja, o clima pode ficar frio e úmido.
No Brasil, o fenômeno La Niña pode provocar um clima mais seco e quente nas principais regiões produtoras de milho e soja, como o Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso. A safra 2024/2025 começa a partir de setembro nestes estados, justamente quando o fenômeno está previsto para se estabelecer. O mesmo vale para a Argentina.
Enquanto isso, nas regiões Norte e Nordeste, tradicionalmente o fenômeno La Niña provoca uma grande intensidade de chuvas e consequentemente, uma maior incidência de pragas, principalmente fungos.
Alimentos podem ficar mais caros por causa do clima
Devido a essa dinâmica, tanto as principais commodities como soja e milho e as frutas podem ficar mais caros. Preços mais elevados para soja e milho implicam diretamente nos custos de produção de rações para grandes animais, como bovinos, suínos, aves e ovos.
O café também entra nesta lista, já que a principal produção de café arábica está em Minas Gerais e São Paulo, áreas que podem sofrer com a estiagem. Outro alimento que pode ter alta é o açúcar, já que as lavouras de cana-de-açúcar também podem ser impactadas nessa época do ano.
Alimentos como os hortifrútis produzidos nos cinturões verdes também podem sofrer com ondas de calor mais esporádicas, já que são culturas de ciclo curto.
Na contramão das previsões, os preços do trigo podem cair em todo o mundo. Nesta terça-feira (30), pesquisadores do Centro de Economia Aplicada, da Usp, mostraram que este cereal tende a ter uma produção maior. Isso porque a Rússia, que é o principal produtor do mundo, mas está em guerra, anunciou uma recuperação das lavouras.
A consultoria SovEcon indica que a safra russa deve passar de 84,2 para 84,7 milhões de toneladas, elevando o otimismo para uma marca histórica na disponibilidade global de 2024/25. Na Argentina, que é o principal produtor de trigo na America do Sul, a expectativa é de uma safra de 18,1 milhões de toneladas, 19,8% superior à da safra 2023/24.