Após quase um mês da polêmica declaração de um diretor francês da Danone, de que a companhia iria parar de utilizar a soja brasileira em seus produtos, o Carrefour anunciou vai excluir as carnes de países do Mercosul de suas prateleiras na França. A declaração gerou manifestações do governo brasileiro e insittuições ligadas ao agronegócio, que apontam protecionismo na declaração.
O presidente da companhia, Alexandre Bompard, fez o anúncio na quarta-feira (20), em uma carta encaminhada a Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores (FNSEA) e também em suas redes sociais.
O executivo disse que a decisão foi tomada por “solidariedade” aos agricultores franceses, que estão mobilizados desde a última segunda-feira (18) em várias partes do país em protestos contra o acordo da União Europeia com o Mercosul que está sendo negociado.
Na quarta-feira, rodovias que ligam a França e a Espanha foram bloqueadas pelos agricultores. Os produtores rurais franceses alegam que um acordo com os países do Mercosul geraria concorrência desleal, regulamentações onerosas e baixos rendimentos agrícolas.
O presidente Emmanuel Macron, que estava no Brasil nesta semana para a reunião do G20, se posicionou contra o acordo e afirmou que teria o apoio de países como a Itália e a Polônia. No entanto, o acordo está sendo debatido na Assembleia Nacional.
No comunicado do Carrefour, Bompard afirmou que espera que as outras indústrias, não apenas a agroalimentar, também bloqueiem as compras do Mercosul e defendam a produção de alimentos franceses. “Apelo, em particular, aos integrantes do setor de refeições fora de casa, que representa mais de 30% do consumo de carne na França – mas cuja carne é 60% importada - a unirem-se ao nosso compromisso”, escreveu.
O governo brasileiro e as instituições do agronegócio rechaçaram a declaração do executivo. Em nota, o Mapa declarou que o sistema de Defesa Agropecuária é rigoroso e, por isso, o Brasil alcançou o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, atendendo a padrões rigorosos, inclusive os da União Europeia.
“Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor. Apresentou à União Europeia propostas de modelos eletrônicos que contemplam as etapas iniciais do Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), demonstrando compromisso com uma produção rastreável e transparente, sendo que os modelos privados de rastreabilidade são amplamente reconhecidos e aprovados pelos mercados europeus.
O Mapa lamenta tal postura que, por questões protecionistas, influenciam negativamente o entendimento de consumidores sem quaisquer critérios técnicos que justifiquem tais declarações”
A Apex-Brasil também se manifestou contra a declaração de Bompard. “Em nossa missão de promover as exportações brasileiras, temos participado dos esforços do governo e do setor privado que tornaram o Brasil e seus parceiros do Mercosul os principais fornecedores de proteína animal do mundo, assegurando a segurança alimentar de populações dos mais diversos países”, escreveu a ApexBrasil em nota.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) associação que representa as agroindústrias de carnes de aves, suínos e ovos, afirma que os “argumentos são claramente utilizados para fins protecionistas, ressonando uma visão errônea de produtores locais contra o necessário equilíbrio de oferta de produtos de seu próprio mercado, o que se faz por meio da complementariedade, com produtos de alta qualidade e que atendam a todos os critérios determinados pelas autoridades sanitárias dos países importadores, como é o caso da proteína brasileira”.
A ABPA ainda afirma que “a manifestação de Bompard foge à lógica de uma organização global, com forte presença no Brasil, que deve atuar dentro dos princípios da competividade e respeito ao livre mercado...O protecionismo é, também, uma atitude de desrespeito aos princípios de sustentabilidade. Ao impulsionar o bloqueio injustificado à produtos provenientes de regiões com melhor capacidade de produção com respeito às questões ambientais, o Senhor Bompard coloca os consumidores de suas lojas em uma lógica de consumo com mais emissões e sob maior pressão inflacionária e menor acesso às classes menos favorecidas.”
O Carrefour Brasil afirmou que as operações da companhia no Brasil não sofrerão qualquer mudança.