Cargill investe R$ 83 milhões para elevar produção de cacau e chocolate

Aportes serão feitos em implantação de lavouras de cacau em Mato Grosso e na fábrica de chocolate no interior de São Paulo

Viviane Taguchi

A multinacional Cargill anunciou dois investimentos milionários no setor de cacau e chocolates nesta semana: R$ 50 milhões para expandir a produção de uma fábrica de chocolate, localizada em Porto Ferreira (SP), e mais R$ 33 milhões para fomentar lavouras de cacau na região amazônica de Mato Grosso, onde predominam áreas de pastagens degradadas. Os aportes fazem parte dos planos da multi para atender a demanda doméstica por chocolates industriais e com teor de cacau mais elevado, e aumentar a produção da amêndoa de cacau no Brasil.

Laerte Moraes, diretor-geral da divisão de alimentos e ingredientes da Cargill, anunciou nesta quarta-feira (15/03) uma parceria inédita com a climate foodtech Belterra que envolve a produção de cacau em sistemas agroflorestais (SAF) na região amazônica de Mato Grosso. Para este projeto, que começa na semana que vem, serão investidos R$ 33 milhões para implantar, inicialmente, 1 mil hectares de lavouras com 1 milhão de árvores de cacau e espécies florestais. 

De acordo com Moraes, desse aporte, R$ 28 milhões serão viabilizados através do banco da multinacional, com financiamentos de longo prazo e operações de barter (troca de cacau por insumos de nutrição animal) e outros R$ 5 milhões, através da CPR (Cédula de Produto Rural) Verde e CPR-F (Cédulas de Produto Rural Financeira).

A parceria com a Belterra (que já atua em Rondônia, Pará, Bahia com SAF de cacau, e em Minas Gerais com SAF de outras culturas), quer incentivar a adoção de modelos de restauração produtiva, que se alinham com o compromisso da multinacional em restaurar 100 mil hectares de áreas alteradas até 2028. “O modelo agroflorestal traz ganhos ambientais, sociais e comerciais para o Brasil, que ainda é um país que precisa importar cacau para atender a agroindústria”, explicou o executivo. “O cacau é um cultivo agregador que pode trazer ao país grandes vantagens”.

As agroflorestas que serão implantadas pela Belterra vão contemplar, inicialmente os cultivos de cacau, banana e mandioca, além de espécies florestais como mogno e outras madeiras nobres. 

Potencial brasileiro – Em média, o Brasil produz anualmente cerca de 180 mil a 200 mil toneladas de cacau. No entanto, o consumo agroindustrial está em torno de 230 mil toneladas. “O Brasil ainda precisa importar amêndoas de cacau para atender a agroindústria de chocolates, mas entendemos que o país tem uma vocação natural para o agronegócio, com um potencial imenso de produzir cacau sustentável, passível de ser rastreado e com uma cadeia muito bem organizada”, afirmou.

Segundo Moraes, o que falta às lavouras brasileiras é organização e tecnologias voltadas ao manejo do cacau. “Nós compramos tudo o que o Brasil produz e, se produzir mais, vamos comprar também e temos condições de exportar cacau. É preciso, porém, criar métodos para que a cadeia trabalhe de forma organizada, aumentar a produtividade das lavouras nacionais”, disse. “Cacau é mais rentável que soja, mas o cultivo exige um manejo mais complexo”.

Com o projeto, a estimativa da Belterra é que até 2030, sejam adicionadas à safra nacional 50 mil toneladas de cacau e, até 2035, 150 mil toneladas de cacau. A produtividade das lavouras, em quatro ou cinco anos, pode ser de 3 mil quilos por hectare. Hoje, segundo Moraes, a média é de 250 quilos por hectare na Bahia e 600 quilos por hectare no Pará.

Desde 2018, uma iniciativa da Fundação Mundial do Cacau (World Cocoa Foundation) chamada CocoaAction, está atuando junto aos produtores de cacau para implantar a conscientização ambiental, social e fomentar sistemas de cultivos adequados para as diferentes regiões brasileiras. De acordo o relatório da instituição, os maiores desafios da cadeia são a quebra de tabus culturais, sucessão familiar, acesso a financiamentos e tecnologias e comercialização.

Fruto amazônico – O projeto da Cargill e a Belterra será implantado na região amazônica de Mato Grosso (nas regiões de Alta Floresta, Paranaíta, Juruena e Carlinda), áreas que já foram desmatadas no passado para a implantação de pastagens que já estão degradadas. 

O cacau é natural da Amazônia. Atualmente, o Brasil é o 6º maior produtor mundial de cacau e os principais produtores são a Bahia, Pará, Espírito Santo e Rondônia. Em Mato Grosso, a produção é quase nula. “O cacau é natural da Amazônia, se adaptou muito bem em várias regiões do Brasil, mas cada região exige manejos diferentes”, explicou o geógrafo Valmir Ortega, da Belterra. “A área escolhida para a implantação do projeto é muito propícia ao desenvolvimento das lavouras em sistemas agroflorestais, que permite que os produtores tenham renda com outros cultivos além do cacau”.

Fábrica de chocolates – Outro investimento anunciado pela multinacional Cargill, na semana passada, visa atender a demanda do “paladar” nacional. A empresa anunciou que vai investir R$ 50 milhões para expandir em 70%, até 2024, sua capacidade de produzir chocolates na unidade fabril de Porto Ferreira, interior de São Paulo. O objetivo, segundo Guilherm Moretti, gerente da unidade, é ampliar as áreas destinadas ao processamento de chocolates e aos lançamentos da empresa, que chega no mercado com a marca Genuine.

De acordo com uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), o chocolate está presente nas compras mensais de 82% dos lares brasileiros, mas cada vez mais, o consumidor está demandando produtos com um teor de cacau mais elevado. Por conta dessa demanda, a Cargill lançou uma versão de chocolates 65% cacau. 

“O novo Genuine é resultado de pesquisas com clientes sobre a percepção de paladar e os níveis de cacau que tornam o chocolate mais sabororo”, contou Ludmila Roseiro, líder da categoria de chocolates e coberturas. “Para uma parcela da população, o chocolate 70% é considerado amargo demais, o que levou a criação da opção de 65%, que foi uma combinação perfeita para os consumidores e além disso, tem a relação com o índice mais alto de fruto no produto que está atrelado ao aspecto de saudabilidade, outra tendência bastante presente nas demandas”.

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