Calor intenso pode deixar bois estressados e reduzir a produção de carne

Bovinos que têm acesso a sombras engordam 5% mais rápido, segundo especialista

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Trilux/CNA

O calor muito forte pode fazer os bovinos ficarem estressados, letárgicos e provocar lentidão no processo de engorda. É o que afirma a zootecnista Cristiane Gonçalves Titto, professora da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP. Segundo ela, os animais, quando expostos ao calor muito intenso, sem a possibilidade de se refrescarem em uma sombra, natural ou artificial, geram prejuízos aos pecuaristas e sofrem com a adaptação corporal.

No ano passado, o Brasil produziu cerca de 9 bilhões de toneladas de carne bovina, figurando entre os maiores exportadores desse produto no mundo. No entanto, para manter a qualidade da produção, sobretudo nas condições atuais de temperaturas extremas, é fundamental que os produtores ofereçam condições adequadas de conforto térmico ao gado. Titto explica que o estresse é definido como qualquer condição que afete a homeostase de um indivíduo e, em função disso, ele precisa buscar alterações fisiológicas para retornar à normalidade.

Segundo a professora, o estresse térmico, em específico, ocorre quando a temperatura do ambiente excede ou fica aquém da zona de conforto térmico de um animal. Ela explica que, quando um indivíduo presencia uma situação de mudanças abruptas de temperatura, o corpo sente um impacto inicial e então o animal é forçado a adotar mecanismos para restaurar seu equilíbrio de temperatura corporal. 

Em se tratando especificamente de bovinos de corte, Cristiane afirma que a temperatura corporal ideal varia entre 37,5°C e 38,5°C e explica que, em um país tropical como o Brasil, o mais comum é que as situações de estresse térmico estejam associadas a níveis elevados de calor, e diante dessas situações, os bovinos utilizam primeiramente seus sistemas termorreguladores, ou seja, aumentam a frequência respiratória em um processo conhecido como ofego. Após as alterações respiratórias, o corpo do animal também utiliza-se da sudação para fazer trocas de calor com o ambiente e perder o calor adquirido pela temperatura do ar.

Conforme a especialista, a exposição prolongada dos bovinos ao calor pode levar a uma série de problemas secundários, incluindo alterações na frequência cardíaca e redução do consumo alimentar. Ela explica que, por ingerir menos alimentos, o animal consome pouca energia e tem menor ganho de peso, fator que influencia na produção de carne. “No caso de fêmeas em lactação, existe também uma redução na produção de leite e isso vai acontecer porque toda a energia que ela está consumindo através da alimentação vai estar sendo utilizada para manter seu corpo estável e tentar diminuir a temperatura. Então, acaba sobrando pouca energia para a produção do leite”, explica.

De acordo com a docente, existem pesquisas avaliando a maneira pela qual os genes respondem ao estresse térmico. Segundo Cristiane, os estudos mostram que o desconforto térmico resulta em um aumento dos níveis de cortisol, o principal hormônio do estresse, e uma diminuição dos hormônios tireoidianos T3 e T4, responsáveis pela regulação de uma série de funções do organismo dos indivíduos.

Mais sombra e água fresca 

Segundo Cristiane, a maior parte da produção de bovinos de corte no País é realizada em pasto e, devido a isso, existe muita dificuldade em oferecer alternativas para mitigação dos efeitos relacionados ao estresse térmico nesse meio. Ela destaca o fornecimento de sombras como uma das principais opções em eficiência e baixo custo para redução de temperatura do ambiente, mas ressalta a dificuldade de plantar e esperar o crescimento de árvores no campo.

“Existem alternativas de sombreamento artificial, como as que utilizam telas de polietileno e polipropileno, as quais têm uma durabilidade de cerca de cinco anos e conseguem dar um bom sombreamento aos animais. Além disso, é fundamental estar sempre oferecendo água de boa qualidade, de preferência em temperatura abaixo da temperatura do ambiente, e é importante também colocá-la em locais em que haja as sombras”, esclarece.

De acordo com a docente, entre 10% e 15% da produção de carne brasileira é realizada em confinamento, mas muitas vezes os animais são mantidos nesses locais por meses sem as condições adequadas de conforto térmico. Ela conta que o sombreamento artificial é capaz de aumentar a produção em até 5% nesses locais, os quais também podem utilizar um método conhecido como aspersão intermitente, em que os bicos de aspersão são regulados para jogar água sobre os animais e sobre o chão das zonas de confinamento com o intuito de diminuir a temperatura do local.

Conforme Cristiane Titto, qualquer espécie de animal utilizado nas produções zootécnicas que esteja sendo afetado por condições extremas de temperatura vai sofrer queda na produtividade, como na ovinocultura, por exemplo, em que os carneiros e ovelhas costumam ficar em pastagens, como os bovinos. Ela afirma que o Brasil conta atualmente com diversas fazendas dotadas de tecnologias como aspersão, nebulização e ventilação, contudo, a maior parte da produção ainda é feita em pasto.

“Em outras criações, como na suinocultura e avicultura, normalmente os animais são mantidos em ambientes cobertos ou fechados. Por isso, a tendência é que seja necessário utilizar equipamentos de resfriamentos, como ventiladores e sistemas de nebulização em locais onde a umidade é mais baixa. A própria aspersão pode ser utilizada também na suinocultura, mas pode ser evitada na avicultura”, finaliza.

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