Brasil deve colher 3 milhões de toneladas de algodão em pluma

Com a mesma área plantada, país aumentou em 19% a produtividade nas lavouras

Da Redação

Brasil deve colher 3 milhões de toneladas de algodão em pluma
Em 20 anos, Brasil só atingiu o volume de 3 milhões de toneladas uma vez, há quatro safras
Wenderson Araujo/Trilux/CNA

O Brasil deve produzir, na safra 2022/2023, pelo menos três milhões de toneladas de pluma de algodão (algodão beneficiado). A área plantada nesta safra é a mesma da temporada passada, em torno de 1,6 milhão de hectares. O que aumentou foi a produtividade, em torno de 19%.

Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abapa), em 20 anos, esse volume foi produzido apenas uma vez, no ciclo 2019/2020. A maior produtividade das lavour está estimada em 1,84 mil quilos de pluma por hectare, contra 1,54 mil quilos por hectare, no ciclo anterior.

Os números foram divulgados no dia 30 de junho, durante a 71ª Reunião da Câmara Setorial do Algodão e Derivados, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), realizada como parte da programação do XX Anea Cotton Dinner and Golf Tournament, no Rio de Janeiro. O evento, promovido pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) aconteceu entre os dias 29 de junho e 02 de julho, e reuniu mais de 600 participantes, de todos os elos da cadeia produtiva da fibra. 

De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel, a boa distribuição das chuvas ao longo da safra explica o aumento da produtividade. “Cerca de 92% das lavouras brasileiras dependem exclusivamente de água da chuva para se desenvolver e a tecnologia da irrigação está presente nos demais 8%. O produtor usa todas as tecnologias disponíveis para mitigar riscos climáticos, mas, ainda assim, precisamos de chuva na quantidade e no momento certo, para garantir as boas produtividades e produção”, explica. Até o momento, apenas 4% das lavouras brasileiras foram colhidas.

Mercado interno

Do total de algodão produzido no país, cerca de 650 mil toneladas devem abastecer a indústria nacional. Tradicionalmente, esse número era em torno de 100 mil toneladas superior ao esperado pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), que credita a queda aos reflexos da recessão mundial pós-pandemia. Segundo o presidente da Abit, Fernando Pimentel, até o momento, o ano de 2023 não foi positivo.

“Tivemos queda na produção da indústria e no varejo, aumento nas importações (de produtos de vestuário), e o dado positivo é que, ainda assim, conseguimos gerar cerca de 5 mil novos postos de trabalho, no primeiro semestre”, diz Pimentel.  

Para o segundo semestre, a expectativa é melhor, mas não o suficiente para compensar as perdas do primeiro semestre. “Precisamos encontrar condições para o Brasil voltar a crescer, atacando firmemente o custo Brasil, a insegurança jurídica, e fazer desse país um bom ambiente para investimentos. Vamos olhar para 2024, na expectativa da consolidação do arcabouço fiscal e do avanço da reforma tributária”, argumenta. “Para 2024, esperamos recuperar as perdas do ano passado e se possível ter um consumo aproximado de 680 mil toneladas. Temos potencial para muito mais”, finaliza o porta-voz da Abit.

Exportações

Com o mercado interno abastecido, o desafio dos produtores é exportar o excedente de uma safra de grandes proporções, repetindo o sucesso de 2019. A Anea acredita que as exportações, na safra 2022/2023, devem fechar em torno de 1,4 milhão de toneladas. Os principais mercados para o algodão brasileiro permanecem na mesma ordem, com a China ocupando o primeiro lugar, seguida por Vietnã, Paquistão, Bangladesh, Indonésia, Turquia e Indonésia.

Segundo o presidente da Anea, Miguel Faus, a demanda mundial segue fraca. “Os estoques intermediários estão elevados, mas a China começa a voltar às compras. A inflação começa a demonstrar os primeiros sinais de queda nos Estados Unidos, mas, na Europa, ainda está elevada. O basis do algodão brasileiro segue pressionado para baixo, com a safra cheia no Brasil e na Austrália”, disse Faus, lembrando, ainda, o terremoto na Turquia, no início do ano, que atingiu em cheio a indústria turca. “Os preços da commodity estão variando em torno de 80 centavos de dólar por libra-peso, há seis meses, com tendência de queda”, acrescentou.

A Anea participa do programa Cotton Brasil, com a Abrapa e a Apex Brasil. A iniciativa atua na abertura de novos mercados e consolidação dos já existentes, com ações de comunicação e marketing. “É uma questão de tempo para o Brasil ultrapassar os Estados Unidos na exportação de algodão. A competição neste mercado é uma briga de ‘cachorro grande’ e o país tem trabalhado, com o Cotton Brasil, para aumentar a presença do algodão brasileiro na preferência da indústria internacional”, disse Faus.

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