Pesquisadores científicos, docentes universitários, parlamentares, sindicatos, produtores rurais e diversas pessoas e associações ligadas à ciência e ao agronegócio lançaram um abaixo-assinado contra a venda da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O documento, que está aberto à adesão, é parte de uma mobilização em defesa do patrimônio científico e agrícola paulista.
Em outubro, a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) denunciou um processo de mapeamento e desmembramento de fazendas dedicadas à pesquisa e conservação do Estado. Uma das áreas, sete hectares da Fazenda Santa Elisa, guarda parte de um dos maiores bancos de germoplasma de café do mundo, além de estudos sobre a macaúba, espécie pesquisada para a produção de biocombustíveis.
“O Centro Experimental do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), historicamente conhecido como Fazenda Santa Elisa, é um centro de pesquisa voltado ao desenvolvimento agrícola do estado de São Paulo, com resultados que chegam à agricultura brasileira e mesmo mundial”, diz trecho do abaixo-assinado.
Em visita ao interior de São Paulo, o Governador Tarcísio de Freitas confirmou o mapeamento, e alegou que apenas “áreas subutilizadas” serão vendidas. “O alvo agora é o IAC, mas nos últimos anos, os Institutos Públicos de pesquisa vêm sofrendo um processo de desmonte, que já culminou com a extinção de instituições históricas e centenárias, como o Instituto Florestal, além dos Institutos de Botânica e Geológico e da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen)”, destaca Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC. “Quando se fala em ‘área subutilizada’, se há, é justamente pela falta de investimentos, de novos concursos, em um processo de negacionismo que pode custar caro à sociedade paulista”.
Além da APqC, o abaixo-assinado em defesa das áreas de pesquisa do IAC é subescrito pela Associação dos Docentes da Unesp (Adunesp), Associação de Docentes da Unicamp (Adunicamp), Associação dos Docentes da USP (Adusp), Sindicato dos Trabalhadores da Unesp (Sintunesp), Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), além de ex-diretores do IAC, como João Paulo Feijão Teixeira e Marco Antônio Teixeira Zullo. Luís Carlos Guedes Pinto, ex-Ministro da Agricultura (2006-2007), Gustavo Petta (PCdoB), vereador e Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia de Campinas, Tuffi Bichara, produtor de cafés Especiais do Circuito das Águas Paulista, de Monte Alegre do Sul, São Paulo, entre outros nomes, também fazem parte do movimento.
“Nós, abaixo-assinados, somos contra essa venda e o resultado que isso pode acarretar nas pesquisas sobre o café e diversos outros temas de pesquisa, no meio ambiente e na economia do país e apelamos para o governador para que cancele os estudos realizados sobre a possibilidade dessa venda”, diz um trecho do documento.
Veja na íntegra o manifesto
Diante da declarada intenção do governo do estado de São Paulo de vender parte da área da Fazenda Santa Elisa, onde se encontram setores do banco de germoplasma de café e de macaúba, pertencente ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), nós, abaixo assinados, somos contra essa venda e o resultado que isso pode acarretar nas pesquisas sobre o café e diversos outros temas de pesquisa, no meio ambiente e na economia do país e apelamos para o governador para que cancele os estudos realizados sobre a possibilidade dessa venda.
O Centro Experimental do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), historicamente conhecido como Fazenda Santa Elisa, é um centro de pesquisa voltado ao desenvolvimento agrícola do estado de São Paulo, com resultados que chegam à agricultura brasileira e mesmo mundial.
Nele, são feitas pesquisas pioneiras com a aclimatação de plantas de clima temperado às condições subtropicais e tropicais do estado, desenvolvimento de novas variedades de plantas resistentes a pragas e doenças e introdução de novas culturas agrícolas vêm ocorrendo ao longo de mais de um século de trabalho de seus servidores, pesquisadores e funcionários de apoio em campo e nos laboratórios.
Todo esse desenvolvimento da agricultura paulista – e brasileira – só é possível com a manutenção de um banco de plantas vivas para a experimentação, o teste e a seleção daquelas mais interessantes para o objetivo que se quer atingir. Nesse sentido, estão na Fazenda Santa Elisa coleções de plantas, ou bancos de germoplasma, de café, seringueira, plantas ornamentais, aromáticas e medicinais, bambu, árvores e palmeiras, entre outras.
Diante do cenário de mudanças climáticas e aumento das temperaturas, é estratégico tanto para a alimentação humana quanto para a economia o desenvolvimento de variedades que se adaptem às condições ambientais adversas. Assim, bancos de germoplasma variados e áreas para a experimentação são essenciais.
Portanto, considerando as questões elencadas, nós, abaixo-assinados, declaramos ser totalmente contrários à venda da Fazenda Santa Elisa, ainda que em partes, por entender que isso colocaria em risco as pesquisas científicas ali realizadas há décadas, comprometendo direta ou indiretamente questões de ordem econômica, científica e ambiental no estado de São Paulo.
Por fim, vale dizer que não existem áreas subutilizadas nas estações experimentais dos institutos de pesquisa, mas o sucateamento deliberado das suas estruturas conduzido nas últimas décadas pelos sucessivos governos estaduais. Faltam concursos públicos para recompor a equipe de pessoal qualificado dessas instituições e a sua devida valorização. Todo esse processo de desmonte do Estado se aprofunda na atual gestão, com sérias consequências para a sociedade. Dizemos não ao desmonte dos institutos públicos de pesquisa!