Jefferson Barbosa traz na fala, na roupa e até nas pinturas do seu caminhão uma mensagem clara: a criação de gado é parte da sua identidade. “Eu nasci na pecuária, né? Fui criado na pecuária e faço parte da pecuária. Não tem jeito, dá orgulho. Meu pai era pecuarista e nós vivemos disso. Há 15 anos estou no transporte de carga viva”, conta.
Natural do Mato Grosso, conhece a BR-262 como poucos, sendo a principal via utilizada por ele desde o seu início, no extremo oeste do país, ao final no Espírito Santo. “Ela nasce em Corumbá-MS, né? Fronteira com a Bolívia. Saindo de Campo Grande, é a nossa rota até São Paulo e aqui em Minas. Eu ando tudo isso. De Uberaba até Belo Horizonte, eu vejo que ela precisa muito de uma fiscalização. Tem um fluxo grande e o conserto é muito ruim”.
A balança comercial brasileira tem na agropecuária um de seus maiores pesos de exportação. E o setor depende prioritariamente das rodovias para escoamento de produção, não só para venda ao exterior, mas também com fins de consumo interno. É nessa relação que está inserida a Rota do Zebu, que vai a leilão para concessão nesta quinta-feira (31).
O trecho da BR-262 em Minas Gerais é conhecido pelo nome da raça bovina pelo grande impacto do gado de corte na região. Com 438,9 km de extensão, o segmento da rodovia liga as cidades de Uberaba, porta de entrada do Triângulo Mineiro e importante polo pecuarista, e Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Entre as melhorias previstas na concessão, estão mais de 44 quilômetros de duplicação e 168 quilômetros de faixas adicionais. Esse é um dos mais relevantes corredores logísticos do país, cortando o Brasil de forma transversal e permitindo a conexão do interior com os portos.
Com o aumento da produção do Triângulo Mineiro, a Rota do Zebu passou a vivenciar gargalos logísticos. Atualmente, a rodovia é, em maioria, de pista simples. Somente 96 quilômetros são duplicados. Também são escassos os trechos com faixas adicionais e pontos de acesso regularizados. Algo que, somado ao forte adensamento populacional das regiões cortadas pela BR-262/MG, torna o fluxo mais lento e, por vezes, perigoso.
“Aqui em Uberaba a gente vê que a BR-262 tem um movimento muito grande. Ela liga a gente à capital [Minas Gerais], à parte do Nordeste e à BR-050 que vai para São Paulo. Então é extremamente importante para a economia da região e também do país. Só que muitos motoristas começaram a evitar essa rodovia justamente pelo trânsito e pelas condições dela, que encarecem o custo do frete”, disse o pecuarista Rodrigo Abdnaur. “A rodovia é o principal meio de transporte da pecuária. Uma estrada bem cuidada reflete na atividade econômica”, completou.
Somente no ano de 2023, a agropecuária respondeu por 44,2% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, conforme dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Dentro deste setor, a pecuária bovina tem destaque. Ainda em 2023, o país bateu recorde de produção de carne, com 8,91 milhões de toneladas. Minas Gerais ocupou o segundo lugar no ranking dos estados que mais produziram, indica o monitor do Brazilian Beef. E o Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba condensam o maior rebanho do estado. São mais de 5,4 milhões de cabeças de gado, com destino tanto a pecuária leiteira como a de corte, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Aqui recebemos animais de todo o país e produtores que rodam milhares de quilômetros para participar dos encontros e acessar eventos. É uma demanda bárbara e o que a gente defende é que as estradas sejam bem conservadas porque mais de 70% da nossa logística depende das rodovias. Uma estrada boa judia menos dos animais, barateia o custo da produção. Então, a gente comemora essa concessão que vai ter”, explicou o gestor de agronegócio e superintendente geral da ABCZ, Moacir Sgarioni.
Pecuária do presente
Nos quilômetros em que se estende a Rota do Zebu, mais do que produtos agropecuários, transita tecnologia. A região do Triângulo Mineiro é referência em melhoramento genético e iniciativas voltadas à pecuária sustentável que são replicadas em todo o país e servem de exemplo para o mundo. Ambas atividades, imprescindíveis ao aumento de competitividade do produto brasileiro, são fortemente dependentes da infraestrutura viária. No município de Uberaba estão algumas das principais empresas e institutos de melhoramento genético e biotecnologia animal e reprodutiva do Brasil.
“Possivelmente esta é a capital do melhoramento genético do mundo, dada a concentração de empresas”, afirmou o gerente de mercado da Alta Genetics Brasil, Tiago Carrara. A empresa, uma multinacional líder no segmento, tem a sede da unidade brasileira no Triângulo Mineiro, onde estão os centros de distribuição e produção. A unidade concentra importações e exportações de sêmen animal geneticamente melhorado para diversos países e atende a mais de 150 municípios brasileiros.
A logística é parte fundamental do trabalho genético e, conforme explica Tiago Carrara, é feita prioritariamente por rodovias, com peculiaridades que exigem uma distribuição ágil. “Nosso produto tem uma logística muito especial. Todo o transporte ocorre condicionado em botijões de nitrogênio para que o sêmen seja mantido em temperaturas abaixo de 100 graus negativos. E a BR-262/MG é extremamente utilizada para chegar ao Nordeste e outras regiões, além de acessar o litoral do sudeste.”
Outro ponto de atenção em tecnologia diz respeito à sustentabilidade. E uma das respostas dos produtores da região a essa questão está na sigla ILPF, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. O Brasil registra cerca de 17,43 milhões de hectares com essa estratégia de produção, conforme dados da Rede ILPF, que reúne entidades como a Embrapa.
“ILPF é o que a gente pode chamar de pasto sustentável, ao mesmo tempo em que o poder do negócio aumenta consideravelmente”, explica Wesley Bicalho, da Fazenda Agronelli, parte de um grupo focado na pecuária de leite, gado de corte e genética. Diferentemente de um pasto tradicional, em que a área verde é escassa ou mesmo inexistente, um campo ILPF aposta, por exemplo, no plantio de eucaliptos ao longo das curvas de nível, aumentando consideravelmente a captura de carbono. “Toda a produção, seja ela de carne ou de leite, cresce em 30% porque o gado tem um bem-estar maior”, complementou.
Desde Uberaba, o Instituto ainda exporta conhecimento ao transferir tecnologia para o fortalecimento da agricultura sustentável em países em desenvolvimento, promover ações de educação ambiental na região mineira e realizar iniciativas de recuperação de nascentes.
“Aqui sempre falamos do legado que queremos deixar. É deixar um legado para os produtores, para a sociedade e para o mundo de mostrar que é possível você fazer uma agropecuária sustentável com valor econômico agregado muito melhor. Não é novidade para ninguém que o agro hoje é responsável por grande parte do PIB do Brasil e o agro é uma cadeia, então quanto mais a gente aumentar essa cadeia produtiva, melhor para o país. E é plenamente viável fazer isso de forma plenamente sustentável e é esse tipo de lavoura que nós fazemos aqui”, concluiu Bicalho.
Fonte: Ministério dos Transportes
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